BIS dá o alarme: Os stablecoins podem desencadear um crash nos títulos de dívida
Nas altas esferas financeiras globais, nunca se falou em favorecer a cripto. Muito menos suas versões descentralizadas. Observam-nas, regulam-nas, desconfiam delas. Até os stablecoins, projetados para tranquilizar com seu lastro em dólar, geram questionamentos. Em um clima mundial tensionado por riscos geopolíticos, agora alguns os veem como o estopim possível de um incêndio futuro nos títulos de dívida.

Em resumo
- Uma corrida nos stablecoins poderia desencadear uma venda massiva de títulos do Tesouro americano.
- O GENIUS Act impõe reserva 1:1 para stablecoins regulados emitidos nos EUA.
- Alguns especialistas afirmam que os stablecoins são mais seguros que os bancos tradicionais.
- O mercado de stablecoins pode ultrapassar 3 trilhões de dólares até 2030, segundo a BIS.
Os stablecoins na encruzilhada entre liquidez e pânico
O paralelo histórico é assustador: o Banco de Compensações Internacionais (BIS) menciona um risco semelhante ao colapso do Lehman Brothers em 2008. Desta vez, o gatilho poderia ser uma “corrida” nos stablecoins, esses ativos ineficazes e perigosos para a economia global. Em outras palavras, se uma perda de confiança ocorrer, os detentores podem querer resgatar seus tokens todos ao mesmo tempo, forçando os emissores a liquidar rapidamente seus títulos do Tesouro dos EUA.
Não é um cenário de ficção científica. Quando o USDC descolou de seu lastro em março de 2023, após a falência do Silicon Valley Bank, o cripto perdeu quase 20 bilhões de dólares em um dia. E isso, sem guerra, sem crise global, apenas um banco vacilando.
Olaf Sleijpen, governador do Banco Central Holandês, adverte:
Se os stablecoins não forem tão estáveis, poderemos nos encontrar numa situação onde os ativos subjacentes precisem ser vendidos rapidamente.
Diante desse espectro, o Banco da Austrália e o BIS compartilham a mesma preocupação: um choque massivo de liquidez poderia desequilibrar não só os mercados cripto, mas o coração do sistema financeiro global.
GENIUS Act: escudo regulatório ou doce ilusão?
Diante das dúvidas, a resposta regulatória americana tem um nome: o GENIUS Act. Ele impõe uma regra simples: cada stablecoin regulado deve estar lastreado por reservas 1:1, compostas exclusivamente por ativos líquidos como títulos do Tesouro de curto prazo. Um modelo sem alavancagem, rendimento ou risco? É isso que defende a Coinbase.
Faryar Shirzad, Chief Policy Officer na Coinbase, não mede palavras:
Primeiro, os bancos concedem empréstimos de longo prazo, muitas vezes arriscados, a indivíduos e empresas, o que os expõe a riscos de crédito e liquidez. Já os emissores de stablecoins geralmente possuem títulos do governo de curto prazo, praticamente sem risco e altamente líquidos.
Ele vai além, defendendo que essa arquitetura estável abre caminho para um novo dólar programável, com valor equivalente à moeda verde tradicional. O argumento é que, diferente da época do “free banking” do século XIX, os stablecoins GENIUS seriam padronizados, supervisionados e interoperáveis. Fim da selva, início da unidade.
Mas nem todos veem essa lei com olhos tão benevolentes. Para os mais céticos, se uma adoção em massa ocorrer sem coordenação global, mesmo uma infraestrutura perfeita pode ser ultrapassada.
Cripto, crescimento explosivo e tensão global: o coquetel é sustentável?
Esse debate sobre os stablecoins não pode ser isolado do ecossistema cripto como um todo. Desde 2022, os volumes do mercado de stablecoins crescem incessantemente. A BIS prevê uma capitalização potencial de 2 a 3 trilhões de dólares até 2030. O menor estresse pode desencadear um “efeito dominó”: venda de ativos, retiradas massivas, tensão nas taxas.
Não é por acaso que o relatório do RBA (outubro de 2025) alerta sobre a fragilidade desse sistema em caso de perda de confiança. E enquanto isso, outras criptos seguem seu caminho, também expostas à dinâmica dos stablecoins. Se estes cederem, toda a estrutura pode ruir.
Para Shirzad, esses medos são infundados. Segundo ele, o relatório omite um ponto crucial: os stablecoins oferecem rastreabilidade muito superior ao sistema bancário. Isso permitiria limitar crimes financeiros, agilizar processos automatizados e fortalecer a eficácia dos mecanismos de segurança pública.
Mas para os reguladores, a prudência pesa mais que o entusiasmo tecnológico.
Números & sinais a não ignorar
- Em março de 2023, o USDC caiu para 0,88 $ após a falência do SVB;
- O setor de stablecoins pode valer 4 trilhões de dólares até 2035;
- Mais de 80% do mercado hoje é controlado pela Tether e Circle;
- Em um dia, 20 bilhões de dólares foram apagados do mercado cripto após as ameaças tarifárias de Trump em outubro de 2025;
- Segundo a BIS, até mesmo um choque moderado poderia competir com as tensões de março de 2020 sobre os Treasuries.
Nestes últimos dias, um novo ator reforçou a preocupação da BIS: o Banco da França. Publicou uma nota chamando para maior vigilância sobre os stablecoins, destacando seu potencial sistêmico. Na França também, as linhas estão mudando. A desconfiança já não é postura ideológica, mas medida de precaução diante de uma indústria cripto em rápida mutação.
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