Investidores abandonam títulos e apostam em Bitcoin
Uma transição discreta, mas decisiva, agita os mercados globais. Os pilares tradicionais das finanças perdem seu prestígio, enquanto ativos antes considerados marginais ganham legitimidade. De fato, a crescente desconfiança em relação às dívidas soberanas abala o mercado de títulos, antes um alicerce de estabilidade. Neste clima de incerteza, surge uma pergunta: o bitcoin, frequentemente considerado especulativo, não estaria se impondo como um verdadeiro ativo de refúgio ?
Em resumo
- O mercado global de títulos enfrenta uma pressão histórica, com os rendimentos disparando nos Estados Unidos e no Japão.
- A dívida americana ultrapassa 36,8 trilhões de dólares, com pagamentos de juros previstos em 952 bilhões até 2025.
- O Japão, maior detentor estrangeiro da dívida dos EUA, alerta para sua própria situação fiscal, considerada “pior que a da Grécia”.
- O Bitcoin, na contramão, vem atraindo cada vez mais capital institucional, apesar de um cenário visto como desfavorável para ativos de risco.
A ruptura no mercado de títulos questiona os pilares das finanças globais
Os títulos franceses perdem credibilidade, num contexto em que seu status de valor de refúgio é contestado pelos mercados. Atualmente, isso ocorre nos Estados Unidos e em outros países desenvolvidos. Em 22 de maio, o rendimento do título de 30 anos atingiu 5,15 %, um pico desde outubro de 2023. Os rendimentos também sobem no Japão, o crescimento mundial desacelera, e a confiança dos consumidores americanos chega a níveis historicamente baixos.
Este contexto instável, que antes teria derrubado o bitcoin, hoje parece alimentar seu avanço. Paralelamente, a diferença entre títulos de 5 e 30 anos ultrapassou 1 %, um nível inédito desde outubro de 2021.
Esse sinal traduz uma revisão profunda das expectativas econômicas :
- Crescimento sustentado ;
- Inflação persistente ;
- Manutenção das taxas de juros em níveis elevados por período prolongado.
O custo da dívida americana explode, com juros estimados em 952 bilhões de dólares a partir de 2025, sobre uma dívida total que ultrapassou a marca de 36,8 trilhões de dólares.
A situação é ainda mais preocupante porque os Estados Unidos não estão sozinhos. O Japão, principal detentor estrangeiro dos títulos do Tesouro dos EUA com 1.130 bilhões de dólares, também vê suas taxas subirem.
O Banco do Japão elevou sua taxa básica de -0,1 % para 0,5 % em março de 2024, encerrando décadas de política de taxa ultrabaixa. Desde então, os rendimentos de longo prazo se tensionam: a taxa de 30 anos atinge 3,1%, um recorde absoluto, enquanto a de 20 anos sobe para 2,53%, nível não visto desde 1999.
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, chegou a declarar perante o parlamento que a situação fiscal do país era “pior que a da Grécia”, uma afirmação de grande peso para um país cuja dívida alcança 260% do PIB. Esse contexto alimenta uma desconfiança generalizada em relação às dívidas soberanas, incluindo as das economias mais desenvolvidas.
O bitcoin atrai capitais em busca de neutralidade e resiliência
Enquanto os títulos públicos lutam para cumprir seu papel de refúgio, o bitcoin agora atrai fluxos institucionais massivos. Contrariamente à lógica clássica, segundo a qual a alta dos rendimentos dos títulos penaliza ativos de risco, o BTC continua avançando.
Tradicionalmente, o aumento dos rendimentos deveria pressionar os ativos de risco. Contudo, as ações e o bitcoin subiram. Essa discrepância destaca uma mudança de paradigma: os investidores parecem rejeitar os esquemas tradicionais de diversificação e buscar ativos fora do sistema monetário baseado na dívida.
O crescimento dos ETFs spot Bitcoin, com ativos sob gestão agora ultrapassando 104 bilhões de dólares, segundo dados da CoinGlass, ilustra essa tendência. Essa corrida pelo BTC acontece pela busca de um ativo que seja ao mesmo tempo rentável e politicamente neutro.
O bitcoin, até então visto como um ativo especulativo, é cada vez mais considerado um equivalente digital do ouro. Conquista pela independência das políticas monetárias, por sua oferta limitada e por sua resiliência diante da instabilidade macroeconômica. O mercado começa a aceitar que o BTC pode representar tanto um ativo gerador de rendimento quanto um reservatório de valor, uma dupla função que até agora parecia contraditória, especialmente desde que sua volatilidade se tornou inferior à do Nasdaq e do S&P 500.
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Diplômé de Sciences Po Toulouse et titulaire d'une certification consultant blockchain délivrée par Alyra, j'ai rejoint l'aventure Cointribune en 2019. Convaincu du potentiel de la blockchain pour transformer de nombreux secteurs de l'économie, j'ai pris l'engagement de sensibiliser et d'informer le grand public sur cet écosystème en constante évolution. Mon objectif est de permettre à chacun de mieux comprendre la blockchain et de saisir les opportunités qu'elle offre. Je m'efforce chaque jour de fournir une analyse objective de l'actualité, de décrypter les tendances du marché, de relayer les dernières innovations technologiques et de mettre en perspective les enjeux économiques et sociétaux de cette révolution en marche.
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