Ripple propõe comprar a Circle por 5 bilhões de dólares, mas tem oferta rejeitada

O campo de batalha finalmente se materializou: bem-vindo à verdadeira guerra dos stablecoins. De um lado, a Ripple, armada com bilhões e pronta para comprar. Do outro, a Circle, gigante estabelecida, decidida a manter o controle do seu destino. A última investida? Uma oferta colossal da Ripple, que queria colocar as mãos na Circle e em seu emblemático USDC. Só que desta vez, o alvo escapou, preferindo mirar em Wall Street ao invés de uma aquisição agressiva.

Uma oferta de 5 bilhões na mesa… recusada

Nos bastidores, a informação circulava há várias semanas. Ripple tentou um grande movimento: comprar a Circle por um valor estimado entre 4 e 5 bilhões de dólares. O objetivo era claro: acelerar sua presença no setor dos stablecoins e eclipsar seu próprio RLUSD, ainda embrionário com seus 316 milhões de dólares em capitalização.

Mas a Circle disse não.

Segundo a Bloomberg, a oferta foi considerada fraca demais. Um banho de água fria para a Ripple. E uma afronta simbólica, já que a Circle acabara de enviar sua documentação para o IPO. A questão não é apenas financeira, é também estratégica. Porque a Circle, com seus 62 bilhões de dólares em USDC em circulação, joga no campo dos gigantes.

Do lado da Ripple, emissora da cripto XRP, a situação está sendo digerida. “Temos muita liquidez, então permanecemos na posição de aquisição”, alertou Monica Long, presidente da Ripple. E os números lhe dão razão: a empresa acaba de anunciar a compra da Hidden Road por 1,25 bilhão de dólares.

Rumores circulam: a Ripple pode tentar novamente. Mas a Circle, por enquanto, prefere seguir seu próprio plano. “Não comentamos rumores de mercado”, limitou-se a responder um porta-voz.

A sombra de Wall Street e a pressão dos investidores

Por trás dessa tentativa de aquisição, todo o ecossistema dos stablecoins vibra. A Circle não é uma empresa comum. Está prestes a se tornar a primeira emissora de stablecoins listada em bolsa. O ingresso? Uma valorização entre 4 e 6 bilhões de dólares segundo Matthew Sigel, com múltiplos de valorização dignos da tecnologia: até 38 vezes os lucros.

Mas a empresa não está livre de críticas. Em 2024, suas receitas cresceram 16%, mas seu EBITDA caiu 29%. A culpa é, entre outras coisas, dos custos operacionais crescentes e de parcerias custosas – especialmente com Coinbase e Binance.

“A Circle teve perdas temporárias, mas mantém uma base sólida com crescimento contínuo das receitas”, esclarece Sigel no X.

No entanto, nesse clima de crescimento desacelerado, a Ripple sentiu uma oportunidade. Porque se o IPO for adiado ou fracassar, uma porta pode se abrir novamente.

Paralelamente, o mercado global de stablecoins atinge 241 bilhões de dólares. A Tether permanece a líder indiscutível, mas o USDC está firmemente estabelecido em segundo lugar. RLUSD, por sua vez, tem dificuldades para emergir. E esse é exatamente o ponto: para a Ripple, engolir a Circle seria um atalho estratégico. O atalho para a dominação.

Por trás dos acordos, visões radicalmente opostas

Esse confronto entre Ripple e Circle revela sobretudo duas visões para o setor. A Ripple avança sem intenção de abrir capital. “Temos dinheiro suficiente. O IPO não é uma prioridade”, confirmou Brad Garlinghouse, chefe da Ripple, em outubro de 2024.

Já a Circle joga a carta da transparência e da regulação. Apesar das incertezas, apesar de uma “tempestade cripto” que abala as valorizações, continua acreditando no potencial de um emissor público. Uma aposta arriscada, mas que pode virar referência.

E as diferenças não param por aí. A Ripple privilegia aquisições massivas e uma estratégia vertical. A Circle, por sua vez, quer expandir seus serviços mantendo o controle. Em segundo plano, os reguladores americanos, antes hostis, parecem agora mais abertos. O que pode reacender ambições… e rivalidades.

Ao rejeitar a oferta da Ripple, a Circle não apenas recusou um cheque. Enviou uma mensagem : o USDC não mudará de mãos tão facilmente. Mas a guerra está longe de acabar. Outras ofertas podem surgir. Outros gigantes podem entrar na arena. E acima de tudo, o mercado espera. Pois essa batalha não se joga somente nos números, mas na confiança.

Apesar das turbulências do mercado, a Circle continua mirando uma entrada em bolsa. O IPO, inicialmente previsto para o começo de abril, foi adiado. À espera de dias mais tranquilos, todos os olhares se voltam para o próximo capítulo da batalha.