A Tailândia ordena que World de Sam Altman destrua 1,2 milhão de scans de íris

O projeto de identidade digital World, cofundado por Sam Altman, sofre um grande revés no Sudeste Asiático. As autoridades tailandesas exigem a exclusão imediata dos dados biométricos de mais de um milhão de usuários. Uma decisão que reacende o debate sobre a proteção da privacidade na era da inteligência artificial.

Worldcoin forçado a apagar seus dados biométricos na Tailândia

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Tailândia deu uma cartada forte nesta segunda-feira. O órgão, verdadeiro braço armado do planejamento estratégico do reino, ordenou que a World cesse imediatamente suas operações. 

A razão alegada? Uma violação flagrante da lei local de proteção de dados pessoais. O sistema do World baseia-se em um princípio simples: escanear a íris dos usuários em troca de tokens WLD. 

Um mecanismo que conquistou 1,2 milhão de tailandeses, mas que agora apresenta um grande problema jurídico.

A ofensiva dos reguladores não é nova. Em outubro passado, uma operação policial já havia mirado um dos centros de digitalização da World em Bangkok. As suspeitas eram então sobre possíveis infrações à legislação de ativos digitais. 

Desta vez, é o Ministério da Economia e Sociedade Digital que sobe ao palco com uma diretiva irrecusável: destruir todos os dados biométricos coletados.

World Tailândia, operada localmente pela TIDC Worldverse, anunciou no domingo no X a suspensão de suas verificações. A empresa, no entanto, mantém sua linha de defesa. 

“Essa decisão ocorre apesar do nosso respeito às leis e regulamentos locais“, declarou. Uma postura que revela o abismo entre a interpretação jurídica da empresa e a das autoridades tailandesas. 

A plataforma destaca o impacto negativo para milhões de usuários que confiavam nessa tecnologia para se proteger contra fraudes e roubo de identidade.

Uma controvérsia global que se intensifica

O caso tailandês é apenas a ponta do iceberg. Desde seu lançamento em julho de 2023 sob o nome Worldcoin, o projeto enfrenta diversos problemas regulatórios. A Indonésia iniciou uma investigação em maio passado por atividades suspeitas. 

A Alemanha, o Quênia e o Brasil também deram o alerta sobre a segurança dos dados biométricos. Essa crescente desconfiança reflete uma preocupação global: como garantir a confidencialidade de informações tão sensíveis quanto a impressão da íris?

A World se esforça para tranquilizar, afirmando que nunca armazena os scans no Orb, o dispositivo de captura. Segundo a empresa, apenas um código único e anonimizado é gerado.

“World não utiliza infraestrutura biométrica centralizada“, afirmava a empresa em maio passado. Um argumento que tem dificuldade em convencer os reguladores, visivelmente pouco sensíveis às promessas técnicas de anonimização.

O mercado penaliza essa sequência de turbulências. O token WLD é negociado atualmente a 0,71 dólar, com queda de 6% em sete dias. Mais revelador ainda: a queda de 70% registrada no último ano. Esses números refletem a preocupação dos investidores diante de um modelo econômico constantemente questionado pelas autoridades.

A suspensão na Tailândia pode marcar um ponto de virada para o World. Sam Altman, já sob pressão com OpenAI, realmente dispõe dos recursos para enfrentar uma batalha regulatória global sobre dados biométricos? A Tailândia provavelmente não será o último país a fechar suas portas. Entre inovação tecnológica e respeito à privacidade, o World terá que decidir – ou correr o risco de desaparecer diante de uma crescente desconfiança mundial.