Blockchain na saúde: Europa ainda atrás da Ásia e dos EUA

A Europa está patinando. Onde a Ásia experimenta e os Estados Unidos investem a todo vapor, o Velho Continente hesita. A blockchain, apesar de ser portadora de um imenso potencial para o setor de saúde, avança na Europa como um caracol na autoestrada. Essa lentidão levanta uma pergunta incômoda: a disrupção tecnológica é realmente percebida como uma prioridade pelos líderes europeus?

Uma regulamentação paralisante apesar das boas intenções

A regulação europeia, criada para clarificar, acaba por desmotivar. O regulamento MiCA queria harmonizar o mercado, mas assusta os pequenos atores. O peso das exigências administrativas mata no nascedouro muitas iniciativas. “Startups, em particular, não querem se batalhar na selva jurídica“, destaca Volker Nürnberg, professor da TU de Munique.

Na Alemanha, a situação é caricatural. Projetos premiados como as receitas eletrônicas nunca foram implementados. E o GDPR, apesar de baseado em princípios louváveis, torna-se mais uma barreira. A blockchain funciona na transparência, enquanto a regulamentação exige eliminação. Para Lukas Weidener, essa contradição é pesada:

Essas regulações podem fazer a Alemanha perder sua posição no desenvolvimento global da tecnologia.

Espera-se que essa rigidez se torne uma vantagem competitiva. Mas, até hoje, ela age principalmente como um freio.

Uma Europa fragmentada, um mercado em pedaços

Dentro das fronteiras europeias, as estratégias divergem. A Estônia digitaliza seu Estado com blockchain, a Alemanha experimenta identidade digital, a Suíça atrai unicórnios das criptomoedas. Mas esse mosaico tecnológico prejudica a coerência.

Resultado: sistemas incapazes de se comunicar entre si. “A fragmentação complica projetos paneuropeus“, lamenta novamente Nürnberg.

A saúde, por sua vez, continua um campo ultra regulamentado, pouco propenso à ousadia. E, ainda assim, a blockchain poderia transformar o cotidiano: compartilhamento seguro de dados, integridade dos ensaios clínicos, rastreabilidade dos medicamentos.

Sem um quadro comum, essas promessas permanecem letra morta. Pior ainda: cada país impõe suas normas, tornando projetos transfronteiriços quase impossíveis. Uma tecnologia que deveria conectar dados é, na Europa, barrada por fronteiras administrativas.

Blockchain: uma imagem manchada, um potencial mal compreendido

A blockchain sofre de uma reputação polêmica. Frequentemente associada à especulação cripto, ela inspira mais desconfiança do que entusiasmo. “Alguns líderes ainda veem a blockchain como um cassino digital“, ironiza um especialista.

No entanto, no setor da saúde, os casos de uso são sólidos. Prontuários imutáveis, teleconsultas seguras, automação dos reembolsos via smart contracts… O terreno é fértil. Mas faltam jardineiros. O medo do desconhecido, reforçado pelos escândalos cripto, bloqueia a curiosidade institucional. Mesmo os potenciais benefícios ambientais de algumas blockchains não conseguem convencer.

Weidener vai direto ao ponto:

O consumo energético percebido das blockchains desestimula os tomadores de decisão, especialmente onde a sustentabilidade é prioridade.

A confusão é injusta, mas real. E enquanto a inovação for vista como risco e não como oportunidade, ela não encontrará terreno fértil.

Não é por acaso que a Coreia do Sul ou os Estados Unidos estão na frente. Lá, investem, testam, ajustam. Na Europa, regulam. Muitos observadores concordam: a UE dá a imagem de um continente burocrático, rápido para regulamentar, lento para inovar. Os talentos vão embora, os projetos migram, os padrões são definidos em outro lugar. E a Europa, ela comenta. Se quiser ter peso amanhã, terá que ousar hoje. Sem isso, a blockchain na saúde será apenas mais um encontro perdido.