Christine Lagarde alerta contra a adoção de stablecoins
Por que tanto empenho dos bancos centrais contra os stablecoins? O que parece ser apenas uma ferramenta de equilíbrio no universo cripto torna-se o inimigo nº 1 de Lagarde. Deve-se ver nisso um vício oculto? Essas criptomoedas chamadas “estáveis” abalam a ordem estabelecida, sim. Mas seriam elas de fato apropriando-se da essência do que os Estados consideram seu último instrumento de poder: a moeda?
Em resumo
- Os stablecoins são acusados por Lagarde de enfraquecer as políticas monetárias e a soberania estatal.
- O BCE considera que o dinheiro público está em perigo diante de criptos privadas como USDT ou USDC.
- A lei GENIUS americana já regula os stablecoins, enquanto a Europa hesita sobre o euro digital.
- Os stablecoins confundem a fronteira entre moeda, pagamento e tecnologia, segundo Lagarde e outros banqueiros centrais.
Moeda pública, interesses privados: o dilema que faz Lagarde tremer
Após o alerta lançado pelo BIS e pelo Banco da França sobre os stablecoins, Christine Lagarde não mede palavras. Em um painel em Portugal, ela declarou:
Considero a moeda como um bem público, e nós como os servidores públicos responsáveis por protegê-la.
Os stablecoins, essas criptomoedas lastreadas em moedas fiduciárias, são emitidos por empresas privadas como Tether ou Circle. Em 2024, o USDT ultrapassou 110 bilhões de dólares em circulação. Para o BCE, essa hegemonia priva os bancos centrais de uma ferramenta essencial: a política monetária.
Lagarde teme uma confusão entre três conceitos: moeda, meio de pagamento e infraestrutura. Para ela, os stablecoins alimentam essa ambiguidade. Eles não seriam nem uma moeda oficial, nem um simples aplicativo de pagamento, mas um meio-termo descontrolado.
Por outro lado, Andrew Bailey, governador do Banco da Inglaterra, partilha dessa análise:
Eles afirmam cumprir a função de meio de troca da moeda, e portanto devem satisfazer o critério de moeda… o que essencialmente significa garantir a preservação do seu valor nominal.
O medo? Perder o controle sobre a alavanca das taxas, sobre a inflação, e a longo prazo… sobre a soberania.
Cripto, euros e confusão: o que o público frequentemente desconhece
O mundo cripto avança rápido e as instituições têm dificuldade em acompanhar. Mas por que essa pressão repentina para regular os stablecoins?
Lagarde vê uma urgência nisso:
Minha preocupação é que essa confusão leve à privatização da moeda.
Um cenário de pesadelo para os governadores dos bancos. Quando os usuários preferem um USDC ao euro, o poder do BCE diminui. Em junho, Lagarde pressionou o Parlamento Europeu a acelerar o lançamento do euro digital. Objetivo: combater essa invasão cripto.
Mas enquanto a Europa hesita, outros avançam. Nos Estados Unidos, a Lei GENIUS estabelece um quadro legal para os stablecoins. Na Coreia do Sul, a fuga de capitais para esses ativos pressiona Seul a flexibilizar as regras cambiais.
O presidente do Banco da Coreia, Rhee Chang-yong, resume: “Sem regulação, os stablecoins podem sabotar nossos fluxos de capital.”
Enquanto isso, o usuário comum frequentemente confunde cripto, stablecoin e euro digital. O verdadeiro desafio está aí: a batalha semântica antes da batalha econômica.
Stablecoins: a ancoragem numérica de uma mudança de paradigma
Para medir a influência dos stablecoins, nada melhor do que os números. Seu crescimento não é mais uma hipótese, mas um fato concreto, enraizado nos usos.
Por trás do alerta de Christine Lagarde, esconde-se um crescimento fulminante:
- 160 bilhões de dólares: valor total dos stablecoins em circulação no mundo em 2024;
- USDT (Tether) representa mais de 65% do mercado global;
- Mais de 80 bancos centrais no mundo exploram ou desenvolvem sua própria moeda digital;
- Na Europa, o euro digital está tecnicamente pronto, mas ainda espera validação política;
- Os stablecoins indexados ao dólar absorvem uma parcela crescente dos fluxos financeiros, em detrimento das moedas locais.
Durante a conferência de Sintra, Jerome Powell decidiu:
Se devemos ter stablecoins — e aparentemente teremos — é preciso um marco regulatório.
A mensagem é clara: eles já estão aqui. Os números não mentem. Eles mostram que o futuro da moeda pode muito bem ser reescrito fora dos muros dos bancos centrais.
O que os bancos temem talvez já esteja em curso: a internet pertence aos stablecoins. A rede cada vez mais se apoia nessas criptos estáveis para trocar, comercializar, se remunerar. A verdadeira questão, portanto, não é “deve-se regulá-los?”, mas sim: a quem pertence a nova infraestrutura do mundo digital?
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La révolution blockchain et crypto est en marche ! Et le jour où les impacts se feront ressentir sur l’économie la plus vulnérable de ce Monde, contre toute espérance, je dirai que j’y étais pour quelque chose
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