Crypto.com : Um hack mantido em segredo por dois anos

A exchange Crypto.com está no centro de mais um caso de cibersegurança. Segundo a Bloomberg, um ataque realizado por um adolescente e seu cúmplice teria permitido divulgar dados pessoais de usuários. Um episódio ainda mais preocupante pois a plataforma teria optado por manter essa falha em silêncio.

Um ataque direcionado e mantido em silêncio

De acordo com um relatório da Bloomberg Businessweek, um adolescente afiliado ao grupo de cibercriminosos “Scattered Spider”, apoiado por um cúmplice, conseguiu invadir a conta de um funcionário da exchange Crypto.com no início de 2023. Essa intrusão, mantida em silêncio, permitiu acesso aos dados pessoais de vários clientes.

A plataforma tentou minimizar o incidente. Um porta-voz afirmou que apenas “um punhado de indivíduos” foi afetado e que nenhum fundo foi roubado. No entanto, essa ausência de comunicação oficial levanta questões. 

Num setor onde a confiança dos usuários se baseia principalmente na transparência, ocultar uma falha de segurança equivale a fragilizar a própria reputação.

O caso ressurgiu após a prisão de Noah Urban, o jovem hacker envolvido, condenado agora a dez anos de prisão. Durante uma operação, o FBI já havia apreendido vários milhões de dólares em criptomoedas, além de joias e dinheiro em espécie.

Essa sequência destaca a crescente sofisticação dos ataques cibernéticos direcionados às plataformas de exchange, que muitas vezes exploram seus próprios funcionários como porta de entrada.

Crypto.com, um caso isolado ou sintoma de um problema estrutural?

Esse episódio faz parte de uma tendência maior. A Coinbase também foi recentemente alvo de um ataque de grande escala, envolvendo cerca de 400 milhões de dólares e expondo dados sensíveis.

Em ambos os casos, o padrão é idêntico: os hackers não atacam diretamente os sistemas, mas exploram as equipes internas, frequentemente consideradas o elo mais fraco de uma cadeia de segurança saturada de protocolos e firewalls.

Esses ataques ressaltam duas realidades essenciais:

• Os cibercriminosos agora privilegiam engenharia social e corrupção de agentes ao invés de ataques técnicos frontais.
• Plataformas centralizadas como Crypto.com ou Coinbase permanecem vulneráveis por natureza, pois concentram tanto capitais quanto dados sensíveis.

O momento complica ainda mais a situação para a Crypto.com. Em agosto, a plataforma ultrapassou a Coinbase em volume de negociações, confirmando seu crescimento. Também se aproximou da Trump Media para criar uma empresa de tesouraria de ativos digitais. Mas quanto maior a empresa, mais ela se torna um alvo privilegiado para hackers.

O incidente, mesmo limitado, deve ser visto como um alerta sério. A falta de transparência sobre a falha mancha a imagem de uma exchange em plena ascensão. 

Num contexto marcado pela recrudescência dos ataques e por uma supervisão regulatória mais rigorosa, as plataformas só têm uma saída: investir massivamente em cibersegurança e apostar na máxima transparência.

Porque no mercado cripto, a confiança se constrói lentamente, mas pode ruir num instante. A menor falha não assumida pode custar muito mais do que a perda de alguns dados.

O triste recorde do primeiro trimestre de 2025, com 1,63 bilhão de dólares roubados, é a prova contundente. O setor cripto enfrenta uma onda incessante de ataques cibernéticos, e somente a transparência pode fortalecer tanto a credibilidade das exchanges quanto a resiliência de todo o ecossistema.