Dívida pública em alta e o avanço do Bitcoin como reserva

E se a maior reserva de valor do amanhã não fosse mais garantida por um Estado, mas codificada em um protocolo? Em um mundo ameaçado pela inflação e pela explosão das dívidas soberanas, o bitcoin se impõe cada vez mais como uma alternativa credível aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Hunter Horsley, CEO da Bitwise, afirma que essa transição não é mais uma teoria marginal, mas uma tendência profunda impulsionada pela adoção crescente e pelo desencanto em relação aos refúgios tradicionais.

O bitcoin diante do mercado dos Treasuries : uma ambição assumida

A Bitwise prevê uma entrada recorde de 420 bilhões de dólares no bitcoin até 2026, impulsionada pelo interesse crescente de investidores institucionais. Nesse cenário, Hunter Horsley, líder de um dos maiores gestores de ativos, acredita que o bitcoin não deve mais ser comparado apenas ao ouro, mas também aos títulos soberanos americanos, usados como reserva de valor por indivíduos e instituições.

“A oportunidade para o bitcoin não se resume ao ouro, inclui os mais de 30 trilhões de dólares que usam os Treasuries como reserva de valor”, afirmou ele em um post publicado na sexta-feira, 13 de junho de 2025, na rede social X.

The opportunity for Bitcoin isn't just gold.

It's the $30T+ using Treasuries as a store of value. https://t.co/xOHG2NkPg0

— Hunter Horsley (@HHorsley) June 13, 2025

Essa declaração responde a Mohamed El-Erian, que convida os analistas a não focarem apenas nos fluxos para os Treasuries para avaliar a busca por segurança dos investidores.

Concretamente, Horsley aponta para uma possível mudança na alocação da poupança mundial, atualmente concentrada nos títulos da dívida pública americana. Aqui estão os fatos-chave mencionados :

• O mercado dos Treasuries americanos representa mais de 30 trilhões de dólares, usado por muitos agentes como uma reserva de valor estável ;

• O bitcoin é visto agora como uma alternativa credível, especialmente diante do aumento dos riscos relacionados às políticas fiscais americanas ;

• Em abril de 2025, os mercados reagiram fortemente ao anúncio do “Big Beautiful Bill” do presidente Trump, uma medida fiscal controversa que poderia aumentar o déficit em mais 2,5 trilhões de dólares ;

• Essa situação provocou uma venda massiva de títulos americanos, resultando em um aumento brusco das taxas dos Treasuries de 10 anos ;

• Saifedean Ammous, autor de “The Bitcoin Standard”, resumiu o clima do mercado : “a situação fiscal dos EUA é ruim, e as ideias de Trump afastaram os mercados de títulos”.

Esses elementos contribuem para questionar a capacidade dos Estados Unidos de continuar desempenhando seu papel histórico de emissor de ativos refúgio confiáveis. O bitcoin, por outro lado, poderia representar uma reserva de valor algorítmica, imutável e desconectada da gestão política.

Uma crise de confiança monetária que abre um caminho para o bitcoin

Além da comparação com os Treasuries, a análise de Hunter Horsley está inserida em uma tendência geral: a de uma mudança progressiva para formas de armazenamento de valor independentes dos Estados.

O bitcoin continua a atrair a atenção dos investidores como uma tecnologia de poupança alternativa. Isso destaca sua capacidade de proteger poupadores contra “choques macroeconômicos, tensões geopolíticas e mercados arriscados”.

Essa posição do bitcoin como ativo refúgio, ao lado do ouro, pode ser explicada principalmente pela crescente desconfiança em relação à política fiscal americana. O projeto de lei orçamentária defendido por Donald Trump poderia, por si só, aumentar o déficit em 2,5 trilhões de dólares. Essa situação alerta até mesmo figuras do setor tecnológico, como Elon Musk.

Para compreender essa dinâmica, é importante também observar as transformações sociológicas em curso. Uma parte crescente da população, incluindo os baby boomers, historicamente fiéis a ativos tradicionais, agora se volta para o bitcoin.

Essa geração, que detém cerca de 79 trilhões de dólares em ativos, começa a integrar o bitcoin em suas estratégias patrimoniais. Esse fenômeno não é trivial, pois reflete uma evolução na percepção do risco, na qual a dívida soberana não é mais necessariamente sinônimo de segurança.

Em longo prazo, se essa tendência se confirmar, o bitcoin poderá conquistar um status equivalente ao dos Treasuries nos portfólios institucionais. As consequências seriam profundas: redefinição dos fluxos internacionais de capital, transformação dos mecanismos de financiamento público e potencial reconfiguração do papel dos bancos centrais. Claro, esse cenário ainda é amplamente especulativo. No entanto, a emergência do Bitcoin como um ativo refúgio credível questiona a própria ideia do que significa “investir sem risco”