Ethereum é usado 3x mais que Bitcoin, diz Glassnode

Enquanto o mercado cripto busca um novo equilíbrio, uma análise da Glassnode revela uma divergência estratégica importante: os detentores de bitcoin mantêm, os de Ethereum mobilizam. Além das rivalidades entre comunidades, esses dados revelam duas visões opostas do valor cripto. Uma se baseia na reserva, a outra no uso. Essa lacuna comportamental, muitas vezes negligenciada, pode redefinir as relações de força dentro de um ecossistema em plena recomposição.

Um uso intensivo que reflete a vocação funcional da rede

Segundo um relatório recente publicado pela Glassnode, os detentores de Ethereum estão muito mais inclinados a se desfazer de suas criptos do que os investidores de bitcoin, enquanto investidores institucionais viram as costas para ambos os ativos.

O relatório afirma sem ambiguidades : “os detentores de longo prazo de ETH mobilizam seus tokens antigos a um ritmo três vezes maior do que os de BTC, o que mostra que estão muito mais inclinados a se desfazer deles, um comportamento que reflete uma lógica de uso utilitário em vez de simples conservação”.

Esse dado ilustra um comportamento fundamentalmente diferente entre as duas comunidades: onde os bitcoiners conservam suas criptos como uma poupança de longo prazo, os usuários de Ethereum os mobilizam ativamente para interagir com o ecossistema.

Essa dinâmica se explica pela natureza profundamente utilitária da rede Ethereum. Ao contrário do bitcoin, frequentemente visto como uma reserva passiva de valor, o Ethereum atua como uma infraestrutura transacional. O relatório da Glassnode destaca vários fatores que contribuem para essa rotação mais alta dos ETH :

• O papel do Ethereum como plataforma de contratos inteligentes, que alimenta milhares de aplicações descentralizadas (dApps) ;

• As taxas de gas : cada interação na rede exige pagamentos em ETH, incentivando o uso regular dos tokens ;

• O crescimento das finanças descentralizadas (DeFi), onde o ETH é usado como colateral, meio de troca ou ativo de rendimento ;

• A introdução dos ETFs ETH, que adiciona uma camada de complexidade entre a posse patrimonial e o uso funcional ;

• A própria estrutura do staking de Ethereum, com parte da oferta imobilizada mas outra parte sendo mobilizada continuamente para várias operações na rede.

Em resumo, a circulação rápida dos ETH não é um sinal de fraqueza, mas o reflexo de um ativo totalmente integrado aos fluxos econômicos da blockchain.

Uma inércia assumida em nome da conservação patrimonial

Os detentores de bitcoin continuam a adotar uma estratégia conservadora, digna de um ativo feito para durar.

“O bitcoin se comporta como o ativo de poupança digital para o qual foi criado : os tokens são majoritariamente acumulados, o turnover é baixo e os movimentos recentes indicam que a oferta migra mais para carteiras de conservação a longo prazo do que para permanecer em plataformas de troca”, afirma a Glassnode em sua análise.

Em outras palavras, os bitcoins não se movem, ou quase não. Eles são retirados das plataformas de troca e armazenados em carteiras de longo prazo, reforçando a narrativa de um BTC visto como uma poupança digital consolidada.

Essa atitude encontra ressonância nos movimentos recentes do mercado. Enquanto os ETFs de BTC sofreram saídas massivas, cerca de 867 milhões de dólares em um dia, os investidores parecem manter sua convicção de longo prazo.

O relatório não observa nenhuma mudança fundamental no comportamento dos investidores. Apesar da volatilidade ou dos fluxos de saída temporários, a estratégia de conservação permanece a mesma. Essa inércia, longe de ser uma falha, reforça o posicionamento do bitcoin como ativo anti-inflacionário, insensível à especulação de curto prazo.

Esse contraste de comportamento, amplamente confirmado pelas métricas on-chain, pode ter implicações importantes nos próximos meses. Enquanto Ethereum continua a consolidar seu papel como infraestrutura tecnológica do ecossistema, sua volatilidade transacional pode apresentar desafios quanto à estabilidade e valorização de longo prazo. Por outro lado, a baixa rotatividade do bitcoin pode atrair mais investidores institucionais em busca de previsibilidade.