O Lightning Network está em declínio? Os números que preocupam

Uma pesquisa online incendiou a discussão: mais de 80% dos votantes acreditam que o Lightning não é o “verdadeiro bitcoin”. Um número massivo e uma separação clara entre a promessa técnica e a percepção do mercado. O debate explodiu no X, confrontando figuras pró-Lightning e críticas contundentes. Vamos resumir, decodificar, projetar.

Pesquisa chocante, narrativa abalada

A mensagem é dura, para uma ampla maioria, Lightning não representa o bitcoin “nativo”. Essa percepção baseia-se numa intuição simples: se é necessário passar on-chain para entrar e sair da rede, então o Lightning aparece como um ambiente à parte, quase como um token distinto. A nuance técnica, por si só, não foi suficiente para convencer.

Nesse contexto, as críticas ficaram mais contundentes. Paul Sztorc fala de um sistema “legal no início” que, com o passar dos anos, “não funciona”. Ele aponta restrições concretas: nós conectados permanentemente, dependência de provedores de liquidez, necessidade de watchtowers. Para ele, a experiência do usuário rapidamente se torna custodial, e a confiança se desgasta.

Na retaguarda, a defesa é clara. Alex Gladstein defende o Lightning como um dinheiro digital em bitcoin, sem bancos.

Matt Corallo acrescenta um ponto de volume: uma porcentagem de dois dígitos das transações BTC atualmente seria roteada via Lightning. Para eles, a realidade prática já existe. O negar seria, justamente, ignorar esses usos.

Os números que irritam: estagnação e centralização percebida

Vamos olhar as métricas públicas. A capacidade do Lightning está em torno de alguns milhares de BTC, aproximadamente o mesmo nível de setembro de 2022. Nenhuma subida significativa nos últimos três anos. O sinal é claro: a tração não se materializou na velocidade esperada.

Outro indicador, ainda mais severo: o número de canais de pagamento quase foi reduzido à metade desde 2022, caindo de mais de 80.000 para cerca de 45.000. Isso é um marcador de densidade da rede, superfície, liquidez e resiliência. Quando os canais diminuem, a percepção de centralização aumenta mecanicamente. E o discurso “todo mundo pode rotear tudo” perde credibilidade.

No entanto, o Lightning mantém uma vantagem crucial: os custos. Os pagamentos minúsculos, roteados off-chain, às vezes custam uma fração de centavo. Em contraste, as taxas on-chain em bitcoin podem consumir centenas de pontos base em valores pequenos. No eixo dos “micropagamentos”, a vantagem técnica persiste. Mas a vantagem narrativa vacila.

Concorrência dos ETFs Bitcoin e caminhos para reativação

Para continuar no tema da percepção, o contexto não ajuda. Os volumes explodem em outros lugares, via ETFs. No terceiro trimestre, JPMorgan observa um novo interesse por ETFs de bitcoin spot, enquanto wBTC e cbBTC avançam. Aplicativos como Moonshot, Base ou Fomo promovem um onboarding em poucos cliques, transações rápidas, uma UX fluida. O grande público segue a menor fricção. E o ecossistema bitcoin paga o preço de cada etapa que parece técnica demais.

Deve-se enterrar o Lightning? Não. Mas é preciso dizer a verdade. A rede não aproveitou totalmente a oportunidade pós-2022. Ela permanece poderosa para casos específicos: pagamentos recorrentes de baixo valor, modelos “pay-per-use”, remessas direcionadas. Para escalar, falta uma experiência “padrão” que esconda a complexidade dos canais, da liquidez, das penalidades e das conexões. Como contexto de mercado, o bitcoin está negociado hoje em torno da faixa dos 106.000 $ no momento da redação, um marco simbólico que ilustra um ecossistema em movimento.