O Telegram prefere deixar a França do que ceder sobre a criptografia

Telegram enviou nesta terça-feira uma mensagem inequívoca aos seus usuários franceses, defendendo firmemente o princípio da criptografia em mensagens privadas. Esta comunicação ocorre após a rejeição de uma emenda controversa na Assembleia Nacional que pretendia impor “portas dos fundos” em aplicativos de mensagens criptografadas.

Uma oposição firme às “portas dos fundos” nas mensagerias

Nesta terça-feira, 29 de abril, os usuários franceses do Telegram receberam uma mensagem direta da plataforma sobre uma recente tentativa legislativa.

Em março de 2025, o Senado havia aprovado uma emenda à lei contra o narcotráfico que teria obrigado as mensagerias criptografadas como Telegram, WhatsApp ou Signal a integrarem “portas dos fundos” permitindo às autoridades acessar as conversas privadas dos usuários. A Assembleia Nacional acabou rejeitando essa medida.

“Os deputados da Assembleia Nacional tiveram a sabedoria de rejeitar uma lei que teria feito da França o primeiro país do mundo a privar seus cidadãos do direito à privacidade “, destaca o Telegram em sua mensagem.

Além disso, a empresa não hesita em formular uma crítica severa, acrescentando que “até regimes autoritários nunca proibiram a criptografia“.

Essa comunicação ocorre enquanto o prefeito de polícia de Paris, Laurent Nuñez, recentemente defendeu o acesso das autoridades às mensagerias criptografadas, especialmente após ataques contra centros penitenciários coordenados via Telegram.

O aplicativo relembra que, conforme o Digital Services Act europeu, já fornece às autoridades os endereços IP e números de telefone dos suspeitos sob decisão judicial.

Uma questão de segurança para todos os usuários

Para o Telegram, o principal argumento contra essas portas dos fundos é de ordem técnica:

É tecnicamente impossível garantir acesso via uma porta dos fundos apenas para a polícia.

A plataforma sustenta que tal vulnerabilidade poderia ser explorada por “agentes estrangeiros” ou “hackers”, colocando em risco a confidencialidade das mensagens de todos os usuários, incluindo aqueles que respeitam a lei.

A empresa também afirma que essa medida seria ineficaz contra o crime.

Se as principais mensagerias criptografadas se tornassem vulneráveis, os criminosos simplesmente se voltariam para dezenas de outros aplicativos, menores e mais opacos — enquanto usam VPNs para embaralhar as pistas.

Essa mensagem ocorre em um contexto tenso entre a plataforma e as autoridades francesas. Em agosto de 2024, Pavel Durov foi preso na França no âmbito de uma investigação sobre atividades ilícitas conduzidas através de sua plataforma.

O fundador franco-russo finalmente foi autorizado a deixar o território no fim de março de 2025, após a suspensão de sua vigilância judicial.

O Telegram conclui sua mensagem lembrando que “a batalha está longe de terminar“, citando especialmente uma recente proposta da Comissão Europeia que visa enfraquecer a criptografia em todo o continente. Para a mensageria, essa questão vai além do âmbito técnico: “Cada dia, nossas liberdades são postas à prova — e todos os dias, devemos defendê-las.”