Vitalik Buterin alerta sobre uma grave deriva que ameaça todo o ecossistema Ethereum

À medida que o mundo das criptomoedas se torna cada vez mais fechado e competitivo, Vitalik Buterin soa o alarme. O criador do Ethereum agora defende o “copyleft”, uma licença que obriga aqueles que reutilizam código open source a publicar suas melhorias. Essa reviravolta visa combater a apropriação privada do conhecimento coletivo e preservar o ideal de colaboração que fez a força da Web3.

A virada filosófica do criador do Ethereum

Em um post no blog publicado na segunda-feira, Vitalik Buterin anuncia uma mudança radical. Ele, que sempre apoiou licenças de software chamadas “permissivas”, que permitem a reutilização livre do código sem obrigações, agora defende o copyleft, uma licença mais exigente.

O princípio é simples: qualquer desenvolvedor que se baseie em código open source deve obrigatoriamente compartilhar suas próprias modificações.

Essa mudança vai além do âmbito jurídico. Revela uma ruptura na cultura do Web3: o espírito de compartilhamento que animava o início das criptomoedas está desaparecendo, substituído por uma lógica de competição.

O setor das criptomoedas, em particular, tornou-se mais competitivo e mercenário, e agora estamos menos capazes do que antes de contar com pessoas que publicam seu trabalho em open source por pura gentileza. 

Vitalik Buterin

Hoje, os projetos buscam proteger sua vantagem competitiva, mesmo que isso signifique isolamento. O tempo do compartilhamento por altruísmo parece ter acabado. Diante dessa evolução, Vitalik propõe um quadro restritivo para preservar a inovação aberta.

O paradoxo é marcante: ele que sempre expressou desconfiança em relação a patentes e direitos autorais, hoje escolhe um caminho mais rígido. Uma resposta pragmática, segundo ele, a um ecossistema em que a benevolência não é mais suficiente para garantir o progresso coletivo.

Uma estratégia defensiva diante da financiarização do setor

Essa virada para o copyleft está inserida em uma reflexão mais ampla conduzida por Vitalik Buterin sobre o futuro do Ethereum. 

Já na ETHCC 2025, ele expressou uma forte preocupação: se o Ethereum perder seus valores fundadores, corre o risco de se tornar uma concha vazia.

Governança centralizada, aplicações descentralizadas com código fechado, dados pessoais expostos… Tantas derivações que ele considera ameaças reais à promessa inicial da Web3.

Para responder a isso, Vitalik vê nas licenças copyleft uma arma defensiva eficaz.

Elas permitem construir uma base tecnológica comum, mas reservada àqueles que se comprometem com a transparência. 

Em termos claros: se você pega, deve dar em troca.

Essa abordagem não é unânime, mas vem ganhando cada vez mais apoio dentro da comunidade. O investidor cripto Adam Cochran, por exemplo, aderiu a ela sem reservas excessivas:

 Existem alguns casos práticos onde o copyleft pode ser problemático, mas, no geral, concordo com essa filosofia.

Embora reconheça que esse método pode impor algumas restrições em certos casos, ele considera que é essencial para garantir uma forma de equidade em um ecossistema cada vez mais marcado pela competição e pela corrida por lucros.

Ao adotar essa postura, Vitalik Buterin busca defender a alma do Ethereum. Um projeto nascido de um ideal de abertura, hoje ameaçado pela financiarização. Sua escolha pelo copyleft é ao mesmo tempo estratégica e filosófica: pode pesar bastante nos debates futuros sobre governança e o futuro da inovação blockchain.