Vitalik sugere DeFi de baixo risco como pilar financeiro da rede

E se o Ethereum abandonasse a especulação para apostar na estabilidade ? Vitalik Buterin propõe uma virada estratégica inesperada: fazer do DeFi de baixo risco o motor econômico principal da rede. Trata-se de uma visão sóbria, longe dos memecoins e NFTs, mas potencialmente estruturante. À semelhança do Google, cuja pesquisa financia o ecossistema, o Ethereum poderia encontrar nesse DeFi discreto, mas regular, uma base duradoura. Essa ruptura assumida poderia redefinir as prioridades de todo o ecossistema.

Conciliar ética e rentabilidade : a aposta do DeFi de baixo risco

Enquanto Tom Lee vê o Ethereum como a maior aposta macro dos próximos 15 anos, Vitalik Buterin revela em seu artigo uma divisão crescente dentro do ecossistema.

De um lado, as aplicações de caráter altamente especulativo (NFTs, memecoins, trading) geram forte atividade na blockchain e asseguram receitas substanciais via taxas de transação. Do outro, projetos mais alinhados com os ideais fundadores da rede, como descentralização, acesso justo e inclusão financeira, têm dificuldades para alcançar adoção suficiente para se autofinanciarem.

“Esta disjunção criou muita dissonância na comunidade”, escreve Buterin em sua publicação. Para reconciliar esses dois mundos, ele propõe uma solução concreta: fazer do DeFi de baixo risco uma alavanca de geração de receita estável para o Ethereum, sem comprometer seus valores éticos.

Ele cita como exemplo o protocolo Aave, no qual as taxas de rendimento para depósitos em stablecoins permanecem razoáveis e atraentes ao mesmo tempo. Esse tipo de atividade cripto, embora menos chamativa que o trading alavancado, tem a vantagem de gerar taxas regulares e previsíveis. Nesse sentido, Buterin fez as seguintes propostas :

• Taxas de juros por volta de 5 % para stablecoins considerados seguros, como USDT e USDC ;

• Rendimentos superiores a 10 % para stablecoins de maior risco, usados nos mesmos protocolos ;

• Uma atividade financeira mais sustentável, considerada conforme aos princípios fundadores do Ethereum, pois não estimula a especulação excessiva no mercado cripto.

“O gerador de receita não precisa ser o aplicativo mais revolucionário ou mais emocionante do Ethereum. Entretanto, ele deve pelo menos não ser ativamente antiético ou embaraçoso”, explica ele. Assim, o Ethereum pode se apoiar numa base econômica sólida, sem ceder às tentações da financeirização excessiva.

Uma estratégia inspirada no Google, mas pensada para o Web3

Ampliando sua reflexão, Vitalik Buterin estabelece um paralelo ousado com o Google. Para ele, o Ethereum poderia aprender com o modelo do gigante tecnológico, mas sem reproduzir seus excessos.

“O Google faz muitas coisas interessantes e valiosas”, reconhece, citando navegadores Chromium, smartphones Pixel e modelos de IA Gemini. Contudo, ressalta que a grande maioria da receita da empresa provém da pesquisa e da publicidade, um modelo que levou o Google a adotar práticas agressivas na coleta de dados, em detrimento dos valores iniciais.

No entanto, Buterin acredita que o Ethereum pode fazer muito melhor, justamente graças à sua estrutura descentralizada, que permite conciliar sucesso financeiro e ética.

A perspectiva de Buterin vai além dos protocolos existentes. Ele também defende explorar inovações monetárias, como criptos indexadas a uma cesta de moedas ou flatcoins, lastreadas diretamente em índices de preços ao consumidor.

A ideia é sair de um sistema excessivamente centrado no dólar americano, especialmente para atender às necessidades de populações que vivem em países de baixa renda ou alta inflação, muitas vezes pouco atendidas pelos sistemas financeiros tradicionais. Esses ativos poderiam ampliar o impacto do Ethereum ao mesmo tempo que diversificam suas fontes de estabilidade.

Em uma visão de longo prazo, essa estratégia poderia permitir que a cripto Ethereum assegure uma base econômica duradoura, evitando os perigos do capitalismo de vigilância. Se os protocolos DeFi de baixo risco se tornarem a norma, poderiam oferecer à rede uma forma de neutralidade econômica, funcional, ética e resiliente.