A ascensão e queda dos memecoins políticos, segundo CoinGecko

Em 2024, os memecoins deixaram de ser simples piadas digitais para se tornarem ferramentas de mobilização política. Impulsionados pelas eleições americanas e pela influência de figuras polêmicas, esses tokens captaram a atenção dos mercados e cristalizaram narrativas eleitorais na blockchain. Sua ascensão fulminante redefiniu os códigos da especulação cripto. No entanto, essa bolha alimentada por emoção e viralidade não resistiu. Alguns meses depois, o mercado desabou, revelando a fragilidade dessa dinâmica.

Quando as urnas fazem os tokens dispararem: a ascensão dos memecoins políticos

O mercado de memecoins teve um impulso espetacular segundo o relatório publicado pela CoinGecko no início de dezembro, alcançando uma capitalização recorde de 150,6 bilhões de dólares em dezembro de 2024.

Esse desempenho inédito foi amplamente sustentado pela dinâmica eleitoral nos Estados Unidos, onde os tokens políticos desempenharam papel central na euforia especulativa. O relatório destaca que “o entusiasmo gerado pela reeleição do presidente Donald Trump coincidiu com o pico do setor”, marcando um ponto de virada na forma como esses ativos são percebidos e usados.

Vários fatores alimentaram essa escalada :

• A entrada das narrativas políticas no universo cripto, com a criação de tokens inspirados em figuras públicas como Donald Trump ou Javier Milei, que rapidamente dominaram as discussões nas redes sociais ;

• A proliferação de launchpads, especialmente na blockchain Solana, que permitiu o lançamento rápido e massivo de novos memecoins com objetivo político ;

• Uma viralidade excepcional, alimentada pelos algoritmos sociais e campanhas comunitárias, que permitiu a esses tokens captar a atenção do grande público e dos especuladores ;

• Um ambiente de mercado favorável, onde a narrativa política se transformou em alavanca de crescimento, fazendo dos memecoins instrumentos de especulação de alto potencial.

A CoinGecko observa que essa configuração deu origem a uma nova geração de tokens, moldados não mais apenas pelo humor ou cultura web, mas por narrativas políticas poderosas, capazes de levar o mercado a uma dinâmica de crescimento tão rápida quanto frágil. Essa tendência, embora temporariamente lucrativa, carregava em si as condições para uma reversão brusca.

Da euforia ao desencanto : um colapso programado

A euforia dos memecoins políticos não resistiu ao teste do tempo. Já no início deste ano, o mercado sofreu uma reversão brusca.

A CoinGecko identifica um momento crucial : o lançamento do token TRUMP, um token oficialmente ligado à figura do presidente americano. Inicialmente impulsionado a um pico de 73 dólares, o token depois caiu para cerca de 5 dólares.

Essa queda abrupta gerou um clima de desconfiança entre os investidores. Outro caso emblemático é o token LIBRA, associado ao presidente argentino Javier Milei. Mal lançado, foi atingido por um escândalo grave, quando os criadores retiraram mais de 107 milhões de dólares em liquidez. Uma operação considerada suspeita o suficiente para desencadear várias investigações.

Em novembro passado, a capitalização total dos memecoins caiu para 38 bilhões de dólares, uma queda de mais de 73% em relação ao pico do mês anterior, dezembro. Essa queda foi acompanhada por uma retração geral nos setores mais especulativos da cripto, incluindo os NFTs, cujas vendas caíram para 320 milhões de dólares, seu nível mais baixo do ano.

A CoinGecko observa que os memecoins agora se tornaram instrumentos de altíssima volatilidade, “refletindo sentimentos culturais e políticos”, mas também extremamente sensíveis a mudanças de percepção.

A correção brusca lembra uma realidade agora difícil de ignorar : os memecoins não são mais suficientes para sustentar o ecossistema Solana. Impulsionada pela especulação, a blockchain deve agora provar sua capacidade de atrair projetos sólidos e duradouros, além das tendências virais que, sozinhas, não garantem nem resiliência nem legitimidade a longo prazo.