A UE prepara uma reforma importante da regulação cripto
Menos de dois anos após a entrada em vigor do MiCA, a ambição de um quadro europeu unificado para as criptomoedas vacila. Entre divergências nacionais, críticas institucionais e tensões sobre o passporting, a União Europeia tem dificuldade em oferecer a coerência prometida. E agora, a ESMA advoga por retomar o controle, correndo o risco de reavivar as tensões entre Bruxelas e os reguladores nacionais.
Em resumo
- A União Europeia tem dificuldade em harmonizar a regulação dos criptoativos apesar da entrada em vigor do regulamento MiCA.
- A ESMA alerta sobre os limites de um sistema de supervisão fragmentado, gerido Estado por Estado.
- Diversos países, como Lituânia, Malta ou Luxemburgo, emitiram licenças MiCA para gigantes do setor, mas segundo padrões muito variados.
- A ESMA critica especialmente a falta de coerência nos processos de autorização e apela à centralização da supervisão em nível europeu.
Uma supervisão nacional em exaustão
Em uma entrevista concedida ao Financial Times, Verena Ross, presidente da Autoridade Europeia dos Mercados Financeiros (ESMA), alerta sobre os limites do modelo atual de supervisão das criptomoedas na União Europeia, enquanto já alertava contra as ações tokenizadas em setembro.
Ela lamenta uma “persistente fragmentação dos mercados“, causada pela delegação das missões de regulação às autoridades nacionais. “Cada autoridade deve construir sua própria expertise e seu próprio sistema de vigilância, o que gera ineficiências“, ressalta ela.
Para a ESMA, essa abordagem descentralizada freia o surgimento de um mercado integrado e prejudica a competitividade da Europa no cenário internacional.
Concretamente, o regulamento MiCA, que entrou em vigor em junho de 2024, prevê que cada Estado-membro permaneça responsável pela concessão das licenças aos prestadores de serviços cripto. Isso levou a uma distribuição muito desigual das primeiras autorizações.
Algumas jurisdições, especialmente as menores e ágeis, saíram na frente:
- A Lituânia concedeu a primeira licença MiCA à Robinhood Europe;
- Malta autorizou grandes plataformas como OKX e Crypto.com;
- O Luxemburgo validou o registro da Coinbase e Bitstamp.
No entanto, essa dinâmica nacional apresenta problemas. Em julho passado, a ESMA criticou o processo de autorização maltês, revelando padrões de controle insuficientemente robustos. Estas discrepâncias de país para país comprometem o objetivo inicial do MiCA: estabelecer um quadro unificado e confiável para os 27 Estados-membros.
Um mercado único fissurado pelas tensões sobre o acesso transfronteiriço
Além das críticas institucionais, a implementação do “passporting”, pedra angular do regulamento MiCA, provoca crescentes atritos entre os Estados-membros.
Esse mecanismo permite que uma empresa licenciada em um país membro ofereça seus serviços em toda a União sem precisar obter autorização adicional. Um princípio que, no papel, facilita a unificação do mercado, mas que, na prática, reacende as rivalidades nacionais.
Jerome Castille, responsável de conformidade na CoinShares, afirma que o maior desafio do MiCA reside agora na “uniformidade de sua aplicação pelos 27 Estados-membros“.
Países como a França agora consideram restringir o acesso ao seu mercado para certas empresas autorizadas em outros lugares da União. Essa postura, embora ainda em projeto, colocaria em questão um dos fundamentos do mercado único europeu.
Marina Markezic, diretora executiva da European Crypto Initiative, lembra que “27 autoridades nacionais competentes supervisionam o mesmo regulamento“, o que, segundo ela, contraria a ambição de um quadro realmente harmonizado.
Este clima de incerteza regulatória poderia ter efeitos dissuasivos para os atores internacionais, mas também desacelerar as dinâmicas de investimento e inovação dentro do mercado europeu. Nesse contexto, a proposta de centralizar a supervisão na ESMA poderia se impor como uma alavanca de eficiência, mas também como uma condição de sobrevivência do projeto MiCA, enquanto a França considera bloquear certas empresas cripto.
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Diplômé de Sciences Po Toulouse et titulaire d'une certification consultant blockchain délivrée par Alyra, j'ai rejoint l'aventure Cointribune en 2019. Convaincu du potentiel de la blockchain pour transformer de nombreux secteurs de l'économie, j'ai pris l'engagement de sensibiliser et d'informer le grand public sur cet écosystème en constante évolution. Mon objectif est de permettre à chacun de mieux comprendre la blockchain et de saisir les opportunités qu'elle offre. Je m'efforce chaque jour de fournir une analyse objective de l'actualité, de décrypter les tendances du marché, de relayer les dernières innovations technologiques et de mettre en perspective les enjeux économiques et sociétaux de cette révolution en marche.
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