Bancos "muito interessados" em stablecoins, segundo a Stripe

O setor bancário tradicional inicia uma virada histórica em direção às criptomoedas estáveis. As conversas entre Stripe e instituições financeiras revelam um interesse massivo nesta tecnologia. Mas a adoção generalizada dependerá apenas da boa vontade dos reguladores?

Bancos prontos para dar o passo dos stablecoins

A Stripe, que reativou os pagamentos criptos em abril de 2024 após 6 anos de interrupção, revela hoje um fenômeno inesperado. John Collison, cofundador da Stripe, revelou uma tendência pouco conhecida pelo grande público em uma entrevista concedida à Bloomberg.

Os bancos globais manifestam um “interesse muito acentuado” para a integração dos stablecoins em seus serviços. Esta revelação marca uma virada histórica para instituições tradicionalmente desconfiadas em relação às criptomoedas.

Essa transformação responde a considerações puramente econômicas. Os stablecoins quebram o equilíbrio financeiro tradicional ao oferecerem transações instantâneas com custos insignificantes.

Diante das taxas cambiais bancárias “extremamente caras”, segundo Collison, essas criptomoedas lastreadas no dólar americano representam uma alternativa poderosa.

Os números são eloquentes: os volumes trimestrais dos stablecoins superaram os da Visa e Mastercard juntas em 2024. Esse desempenho testemunha uma adoção massiva que o setor bancário tradicional não pode mais ignorar.

Os bancos percebem que resistir a essa inovação significaria abrir mão de uma parcela crescente do mercado de pagamentos internacionais.

A Stripe antecipou essa evolução lançando contas baseadas em stablecoins em cerca de cem países no início de maio. Esta iniciativa estratégica posiciona a empresa como uma ponte entre a economia tradicional e o ecossistema cripto emergente.

A regulamentação, último obstáculo para a adoção em massa

Apesar desse aparente entusiasmo, os bancos continuam sujeitos às decisões regulatórias. O Reino Unido ilustra perfeitamente esse dilema: a Financial Conduct Authority ainda solicita comentários públicos sobre as novas regras relativas aos stablecoins, atrasando assim a adoção.

Essa lentidão regulatória preocupa John Collison, que alerta para uma fuga de talentos para jurisdições mais favoráveis.

Empresas são criadas para servir esse setor. Sem certeza regulatória, elas vão embora para outros lugares.

Esse alerta ressoa particularmente em um contexto em que a Europa acelera com a regulamentação MiCA.

Nos Estados Unidos, os debates regulatórios também se intensificam. Projetos de lei recentes como o GENIUS Act demonstram a vontade americana de enquadrar esses ativos preservando a competitividade do setor.

A administração Trump claramente indicou sua intenção de usar os stablecoins para fortalecer a hegemonia do dólar no cenário internacional.

Os bancos americanos multiplicam os pedidos ao governo para obter diretrizes mais claras sobre suas prerrogativas em relação às criptomoedas. Essa pressão institucional demonstra que o interesse pelos stablecoins vai além de uma simples moda passageira.

A ironia da situação reside no fato de que o Reino Unido, apesar de seu atraso regulatório, registra o maior crescimento em novos detentores de criptomoedas na Europa, segundo a Gemini. Essa dicotomia entre adoção popular e quadro legal ilustra a urgência de uma harmonização regulatória.

O interesse dos bancos pelos stablecoins não é mais uma hipótese, mas uma realidade confirmada. Essa evolução marca a entrada das finanças tradicionais na era cripto. Para investidores de capital de risco, os pagamentos em dólares via stablecoins representam o uso mais promissor da blockchain.