Bitchat : O aplicativo de Jack Dorsey se torna a arma digital dos manifestantes no Nepal

A repressão digital atinge seus limites. No Nepal como na Indonésia, a censura às redes sociais impulsionou o Bitchat, o aplicativo descentralizado de Jack Dorsey, a ferramenta de contestação. Privados das plataformas tradicionais, milhares de cidadãos o adotam em massa. À semelhança do Bitcoin, que revolucionou as finanças, o Bitchat abre um espaço de expressão livre, fora do alcance dos Estados.

Quando a repressão alimenta a inovação cidadã!

A história quase virou um clássico: um governo bloqueia Facebook, WhatsApp ou YouTube, pensando assim sufocar a contestação. Mas no Nepal, essa estratégia teve o efeito contrário.

Após a proibição de 26 plataformas, os downloads do Bitchat explodiram, passando de 3.300 para mais de 48.000 em apenas alguns dias, de acordo com os dados do desenvolvedor open source Ebtc. Essa explosão fez do país o epicentro mundial do aplicativo, criado por Jack Dorsey, cofundador do Twitter.

Essa adoção fulminante ocorre em um contexto de crise política grave. Os protestos contra a corrupção já causaram mais de trinta mortes e forçaram o primeiro-ministro KP Sharma Oli a renunciar. 

Privada de suas redes habituais, a juventude nepalesa se voltou para o Bitchat para se organizar, compartilhar informações e manter uma voz apesar da censura.

Na Indonésia, o cenário apresenta semelhanças inquietantes. Durante protestos contra subsídios parlamentares considerados abusivos, a repressão policial atiçou a ira popular. 

A morte trágica de um jovem motorista de aplicativo cristalizou o movimento. Novamente, milhares de usuários adotaram o Bitchat, percebido como uma alternativa confiável aos canais monitorados e controlados pelo Estado.

Bitchat, o plano B formidável que contorna todas as censuras

O Bitchat não é apenas um simples mensageiro. Graças à sua arquitetura ponto a ponto, funcionando offline e sem cadastro, impõe-se como um símbolo de autonomia digital.

Em um contexto em que os governos reforçam seu arsenal de censura e vigilância, este aplicativo ilustra uma virada: os cidadãos buscam retomar o controle de suas comunicações.

Como explicou ao Decrypt o especialista Christian Ruz, “os aplicativos de mensagens descentralizados e resistentes à censura experimentarão uma explosão de adoção“.

Por trás do Bitchat se desenha, portanto, muito mais do que um fenômeno tecnológico: um movimento global que une reivindicações sociais e inovações descentralizadas. Da mesma forma que o Bitcoin abriu uma brecha no sistema financeiro tradicional, ferramentas como o Bitchat abrem hoje um espaço livre para a voz pública e a coordenação cidadã.

Essas soluções aparecem como verdadeiros salva-vidas em sociedades onde a legitimidade das instituições está se esvaindo. Seu crescimento no Nepal e na Indonésia pode servir de exemplo para outros países do Sul, frequentemente marcados por crises políticas, econômicas e sociais recorrentes.

Nesse sentido, o Bitchat impõe-se agora como uma arma digital contra a repressão. Seu sucesso demonstra que as tecnologias descentralizadas não são simples gadgets, mas alavancas políticas poderosas e ferramentas de liberdade. O aplicativo de Jack Dorsey junta assim o arsenal crescente de instrumentos de resistência digital, a serviço de uma contestação mais autônoma e mais resiliente.