Bitcoin a 126K? Na realidade, ele nunca ultrapassou os 100.000 dólares

Gritaram recorde. As redes se incendiaram. O bitcoin teria ultrapassado os 126.000 dólares. Um topo histórico? Nada disso. Esse número bruto, sem filtro, esconde uma realidade muito mais complexa. A inflação galopante, a erosão monetária e as ilusões financeiras distorceram os parâmetros. Acreditar que o BTC ultrapassou essa marca simbólica é ignorar que na economia atual o dólar não vale mais o que valia. E por trás dos números, há uma história que frequentemente esquecemos de…

O falso topo dos 126.000 $: quando a inflação alcança a narrativa

O preço do BTC realmente ultrapassou o mítico limite dos seis dígitos? Não se ajustarmos pela inflação. Alex Thorn, analista da Galaxy, lembra que o pico de 126.000 dólares em outubro de 2025 equivale na verdade a 99.848 dólares em dólares constantes de 2020.

Sua análise baseia-se no CPI, índice que reflete a perda progressiva do poder de compra da moeda americana. E essa queda não é pequena: o valor do dólar caiu 20% desde 2020. O problema é que a economia midiática trabalha com números brutos. E os algoritmos adoram isso.

Thorn resume seu pensamento em um tweet que viralizou:

Se você ajustar o preço do bitcoin pela inflação usando dólares de 2020, o BTC nunca ultrapassou os 100.000 $. Na realidade, atingiu 99.848 $ em valor de 2020, se você pode acreditar.

A economia se distorce, mas as comparações permanecem fixas. O bitcoin sobe, claro, mas em um ambiente em que a moeda fiduciária se desgasta, nada é tão simples assim.

Domesticação cripto: Bitcoin frente às ferramentas do velho mundo

Ao reintroduzir ferramentas macroeconômicas na análise cripto, não estaremos traindo o espírito original do BTC? Inflação, comparações reais, ajustes sazonais… Isso é exatamente o que o Bitcoin queria evitar no seu nascimento.

No X, BitKane não esconde seu ceticismo:

Se começarmos a olhar o preço do bitcoin sob o ângulo do “ajuste”, não estaremos simplesmente recriando o mesmo sistema? Não nos tornamos, ao pensar em termos de ajustes sazonais, os novos banqueiros centrais?

Esse desconforto revela uma tensão profunda: entre puristas, que veem o bitcoin como uma ferramenta de resistência à economia institucional, e aqueles que defendem sua integração às lógicas macroeconômicas.

Esse debate vai além do BTC. Ethereum, com seus rollups cada vez mais institucionais, ou stablecoins lastreados em moedas estatais, refletem essa mesma dinâmica. Todo o ecossistema parece se aproximar de um modelo mais regulado, menos rebelde.

Economia de inflação: a normalização acelera

Não é tanto o bitcoin que está explodindo, mas o dólar que está vacilando. Essa constatação é desconcertante, porém inevitável em uma economia abalada por uma inflação acumulada de 24% entre 2020 e 2025.

Alex Thorn vai além. Para ele, o ano de 2026 promete ser caótico demais para previsões. Contudo, a Galaxy mantém uma visão otimista de longo prazo, estimando que o bitcoin pode atingir 250.000 dólares até o final de 2027, impulsionado pela crescente institucionalização do mercado.

O BTC está mais maduro, suas volatilidades se suavizam, suas opções se diversificam. Até seu “sorriso da volatilidade” se alinha ao das commodities. Tudo indica que a economia cripto está se estruturando.

Mas nessa busca por reconhecimento, há um grande risco: trocar a liberdade pela integração. Quando os recordes são lidos sem filtro, esquecemos que o valor real é construído com contexto, não apenas com picos espetaculares.

O que os números nem sempre dizem

• O topo do Bitcoin em 2025: 126.000 $ (nominal);
• Em valor de 2020: 99.848 $;
• Inflação acumulada 2020–2025: +24%;
• Poder de compra do dólar: −20% desde 2020;
• Preço atual do BTC: 87.320 dólares.

Alguns continuarão acreditando firmemente. Para eles, o Bitcoin ultrapassou a barreira simbólica. Independentemente dos ajustes. E apesar das dúvidas, uma parcela de entusiastas já projeta um BTC a 180.000 dólares para 2026. A economia divide. Os números também.