BRICS querem reduzir dependência do dólar nas trocas

À medida que se aproxima a cúpula dos BRICS no Rio, Ron Paul soa o alarme : uma mudança monetária está em preparação. O parlamentar menciona um “Rio Reset”, uma ofensiva coordenada das economias emergentes para marginalizar o dólar nas trocas globais. Por trás dessa declaração, uma dinâmica mais ampla: a de uma ordem financeira multipolar em gestação. Enquanto as tensões monetárias se intensificam, a iniciativa promovida pelos BRICS pode precipitar uma mudança de paradigma com consequências globais.

O “Rio Reset” : um desafio frontal à dominação do dólar

Enquanto os BRICS aceleram sua transição para moedas locais, o ex-membro do Congresso americano Ron Paul abalou a cena financeira mundial em 3 de junho ao anunciar no X (antigo Twitter) : “o bloco dos BRICS está preparando seu Rio Reset para julho, exatamente o tipo de desafio à hegemonia do dólar que prevejo há anos“.

The BRICS alliance is preparing their "Rio Reset" this July – exactly the challenge to dollar hegemony I've been predicting.

When fiat money faces competition, Americans discover the true cost of endless money printing.

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— Ron Paul (@RonPaul) June 3, 2025

Por trás desse termo existe uma iniciativa liderada pelo grupo dos BRICS, que pretende iniciar uma transformação das regras do comércio mundial.

Essa estratégia deve ser revelada na cúpula prevista para Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho de 2025, e visa reduzir significativamente o uso do dólar americano nas trocas internacionais. Segundo Ron Paul, essa iniciativa poderia questionar uma ordem monetária baseada na nota verde por quase oito décadas.

As linhas gerais do projeto, já esboçadas pelos líderes do bloco, mostram a clara vontade de favorecer a soberania monetária e reequilibrar as relações de força econômicas mundiais :

• O objetivo central : libertar as trocas comerciais dos BRICS da dependência do dólar, privilegiando o uso das moedas nacionais ;

• A situação atual : segundo Moscou, mais de 65 % das trocas intra-BRICS seriam hoje realizadas em moedas locais, contra cerca de um terço em dólar ;

• A posição oficial : os BRICS não consideram a criação de uma moeda única por enquanto, mas sim uma coordenação estratégica para reforçar sua autonomia financeira ;

• As motivações : emancipar-se dos instrumentos de controle geopolítico como o sistema SWIFT ou as sanções econômicas impostas via dólar ;

• A liderança da cúpula : o Brasil, anfitrião do encontro, estaria na linha de frente para orquestrar esse “Rio Reset”, ao lado da China e da Rússia.

Em uma nota publicada no Birch Gold Group, Ron Paul afirma : “Em julho, as nações dos BRICS revelarão seu plano mais ambicioso até hoje: criar uma alternativa ao sistema financeiro baseado no dólar“.

Essa abordagem está inserida numa dinâmica global de contestação da ordem financeira pós-Bretton Woods, sem contudo propor uma ruptura brutal.

Ron Paul alerta sobre uma crise do dólar e o retorno ao ouro

Em suas falas, Ron Paul não se limita a descrever uma evolução geopolítica: ele vê uma ruptura sistêmica, como aquela que viu a libra esterlina ceder seu lugar ao dólar após a Segunda Guerra Mundial.

Ele alerta para as repercussões internas que uma perda do status de moeda de reserva pode causar: “Quando a moeda fiduciária é posta em competição, os americanos descobrem o verdadeiro custo da impressão monetária sem fim“.

Ele teme especialmente uma deterioração do poder de compra, uma erosão das poupanças e uma instabilidade dos fundos de pensão e dos benefícios sociais nos Estados Unidos.

Diante do que percebe como uma crise monetária iminente, Ron Paul volta a um tema clássico: o ouro. Segundo ele, os bancos centrais do mundo todo teriam antecipado esse movimento ao aumentar suas reservas de ouro, o que refletiria uma perda crescente de confiança no dólar.

Nesse contexto, ele convida os particulares a considerarem uma diversificação de seu patrimônio via ativos físicos considerados mais estáveis, como o ouro, que ele qualifica como uma “moeda honesta, real, que não pode ser manipulada nem desvalorizada“. Ele menciona especialmente a conversão das contas de aposentadoria para suportes lastreados em ouro, como medida de precaução.

Esse deslocamento progressivo fora do dólar também poderia reforçar as dinâmicas já presentes no ecossistema cripto. Se os BRICS se afastam do sistema dólar e da infraestrutura SWIFT, as moedas digitais, especialmente os stablecoins e o bitcoin, podem aproveitar um espaço de troca multipolar descentralizado.