BTC perde força mesmo com corte de juros

Enquanto as incertezas macroeconômicas pesam sobre este final de ano, cada movimento do Federal Reserve é observado de perto. Na última quarta-feira, o Fed reduziu suas taxas pela terceira vez consecutiva, provocando uma reação imediata no mercado cripto. O bitcoin saltou além dos 93.000 dólares, impulsionado por um renascimento do apetite pelo risco. Esta recuperação inesperada, em meio a uma política monetária mais flexível, gera tantas expectativas quanto dúvidas.

Uma recuperação cripto alinhada com a mecânica do Fed

O Fed confirmou na quarta-feira uma terceira redução das taxas em três meses, totalizando cortes de 0,75% desde setembro.

Esta decisão, embora antecipada, provocou imediatamente uma reação no mercado cripto. O bitcoin passou de menos de 90.000 $ para um pico de 93.500 $ na Coinbase, antes de recuar levemente para 92.300 $.

Segundo a análise da Santiment, essa dinâmica insere-se em um padrão bem conhecido. “Cada corte de taxa levou a vendas de curto prazo, seguindo o esquema clássico de comprar no boato, vender na notícia”, indica a empresa on-chain.

No entanto, esse comportamento é apenas temporário. A Santiment ressalta: “geralmente há uma recuperação uma vez que a poeira assenta”, acrescentando que essa fase de estabilização “pode oferecer oportunidades comerciais previsíveis”.

Esse fenômeno se encaixa em uma lógica econômica global, regularmente observada após decisões do Fed. Aqui estão os pontos-chave destacados pelos analistas :

• As quedas nas taxas favorecem um maior apetite pelo risco, devido a um custo de financiamento mais baixo ;

• Os investidores buscam retornos mais altos, o que os impulsiona para ativos especulativos como as criptomoedas ;

• Cada queda na taxa foi seguida por uma retração de curto prazo, seguida de uma recuperação mais moderada, porém previsível, segundo os dados históricos analisados pela Santiment ;

• O movimento de alta do bitcoin ainda é frágil, mas pode se inserir em um ciclo de consolidação, caso o sentimento do mercado se estabilize nos próximos dias.

Um otimismo questionado enquanto o bitcoin cai novamente abaixo dos 90.000 $

Enquanto alguns observadores esperavam uma recuperação duradoura após a redução das taxas pelo Fed, os mercados lembraram abruptamente sua volatilidade.

Nesta sexta-feira, o bitcoin voltou a cair abaixo dos 90.000 dólares, eliminando totalmente os ganhos realizados após o anúncio de quarta-feira. Essa queda invalida temporariamente o cenário de alta previsto por alguns traders e reacende dúvidas sobre a solidez do sentimento do mercado.

Como ressaltou Jeff Ko, analista-chefe da CoinEx, a redução das taxas era “amplamente esperada e já incorporada nos preços”. Portanto, foram os sinais mais sutis do Fed, especialmente seu dot plot, que chamaram a atenção. Ele “inclinou-se ligeiramente a favor de um aperto monetário”, segundo Ko, o que provavelmente esfriou o ímpeto dos investidores otimistas.

Além disso, os 40 bilhões de dólares em compras de títulos do Tesouro de curto prazo, anunciados pelo Fed, foram interpretados como uma medida técnica e não como um verdadeiro suporte monetário. Jeff Ko enfatiza: não se trata de um plano de estímulo massivo, mas “uma manobra técnica destinada a injetar liquidez de curto prazo, para ajustar as taxas de curto prazo”.

No entanto, parte do mercado viu nesse evento um sinal positivo, o que sustentou a curto prazo as ações americanas… e brevemente o bitcoin. A queda abaixo dos 90.000 $ mostra que esse suporte percebido era mais frágil do que parecia.

Neste contexto mais incerto, Jurrien Timmer, diretor de estratégia macroeconômica global na Fidelity Investments, chama a uma visão mais ampla. Ele reconhece que o bitcoin teve desempenho inferior às ações este ano, mas observa uma dinâmica fundamental mais tranquilizadora : “a estrutura da rede se estabiliza e o mercado se torna mais maduro do que nos ciclos anteriores”.

Se os sinais do Fed mantêm a esperança de um suporte monetário, a reação do mercado destaca uma realidade mais nuançada. O preço do bitcoin, sujeito a forças contraditórias, oscila entre um renascimento especulativo e incerteza estrutural, refletindo um mercado ainda em busca de referências duradouras.