Coinbase, MetaMask, OpenSea… Um bug na AWS coloca a indústria cripto em pausa

Uma grande pane da Amazon Web Services paralisou na segunda-feira as principais plataformas cripto, revelando mais uma vez a dependência paradoxal de um setor que defende a descentralização. De MetaMask a Coinbase, passando por Base e OpenSea, as falhas se multiplicaram ao longo do dia.

Uma infraestrutura centralizada fragiliza a promessa cripto

A pane começou cedo na segunda-feira, revelando bruscamente as falhas de um setor apesar de construído sobre a promessa de resiliência. Os usuários do MetaMask, uma das carteiras descentralizadas mais usadas no mundo, descobriram com espanto saldos zerados.

Não, seus fundos não haviam desaparecido: o problema veio da Infura, o serviço que conecta aplicações descentralizadas às blockchains. Porém, esta depende diretamente da Amazon Web Services (AWS) para extrair os dados em tempo real.

Privadas dessa infraestrutura, as aplicações ficaram sem acesso às redes Ethereum, Base, Polygon, Optimism, Arbitrum, Linea e Scroll. Uma constatação pelo menos perturbadora: mesmo ferramentas que promovem a descentralização ainda dependem de atores centralizados para funcionar.

A rede Base, desenvolvida pela Coinbase e apresentada como uma solução rápida e escalável, também vacilou. Após uma breve trégua à tarde, os problemas ressurgiram: altas latências, erros de sincronização, incoerências na produção dos blocos. Para uma rede que deveria simbolizar a modernidade e robustez do Web3, o revés é severo.

Quanto à Coinbase, a empresa-mãe da Base, teve dificuldade para restaurar todos os seus serviços. Várias horas após o início da pane, muitos usuários ainda não conseguiam negociar ou transferir seus ativos. Uma situação ainda mais embaraçosa porque o Robinhood, afetado pela mesma falha da AWS, já havia retomado o funcionamento normal.

O paradoxo da descentralização revelado à luz do dia

O OpenSea, o marketplace de NFTs de referência, não foi poupado da tempestade. Seu diretor técnico, Chris Maddern, explicou que, apesar de um site “aparentemente funcional”, vários fornecedores a montante continuavam a enfrentar dificuldades maiores. 

Resultado: interrupções esporádicas, uma taxa de erro anormalmente elevada e uma experiência do usuário fortemente degradada. Maddern alertou que essas perturbações podem se prolongar por várias horas antes de um retorno completo à normalidade.

Esta crise traz à tona uma questão central: como um setor fundado na descentralização pode depender tanto de um único fornecedor de infraestrutura em nuvem? 

O incidente da AWS revelou uma fragilidade estrutural preocupante, agravada pela concentração geográfica dos servidores. Os usuários da costa leste dos Estados Unidos foram os mais afetados.

Ironicamente, essa pane generalizada também teve um efeito colateral positivo: a queda espetacular das taxas de transação no Ethereum. Com a atividade em forte declínio, as taxas de gás caíram abaixo de 0,1 gwei, segundo dados do Etherscan — um nível historicamente baixo, equivalente a menos de um décimo da tarifa do dia anterior e a menos de 1% dos custos médios observados nos últimos meses. Mas além dessa pausa técnica, a mensagem é clara: a cripto ainda tem um longo caminho a percorrer para concretizar suas ambições de resiliência e independência.

Enquanto o ecossistema se apoiar em gigantes centralizados como a Amazon, continuará exposto a esse tipo de vulnerabilidades sistêmicas. A ironia não passou despercebida pelos observadores, que destacaram a hipocrisia de um setor que defende a descentralização enquanto depende das costas de um único ator centralizado.