Cripto: Os Estados Unidos votam três leis que mudam tudo

Esta semana, em Washington, a regulamentação cripto tomou um rumo decisivo. Nesta quinta-feira, ao término de uma batalha política eletrizante e quatro dias intensos, a Câmara dos Representantes aprovou três textos fundamentais. A indústria cripto prende a respiração, pois essas leis podem remodelar o futuro do setor nos Estados Unidos. O suspense foi total até o fim: negociações de última hora, tensões partidárias, reviravoltas inesperadas… mas os dados estão lançados, e o desfecho, histórico.

Três leis, três ambições: estruturar o universo cripto americano

Primeiro, há o GENIUS Act, destinado a regulamentar os stablecoins denominados em dólar. Com 308 votos a favor e 122 contra, este texto impõe reservas obrigatórias e proteção aos consumidores. Um marco aguardado há muito tempo. O CLARITY Act, em seguida, esclarece a divisão de responsabilidades entre a SEC e a CFTC — uma disputa de competência tão antiga quanto o Bitcoin. Por fim, o Anti-CBDC Surveillance State Act proíbe pura e simplesmente a criação de um dólar digital pelo Federal Reserve. Uma vitória para os defensores da privacidade.

David Sacks, apelidado de “Czar Cripto” da Casa Branca, saudou a adoção dos textos como um avanço importante, afirmando que os Estados Unidos estão fortalecendo sua posição de líder em inovação digital.

Para Brad Garlinghouse, CEO da Ripple, o impacto é fundamental:

O último grande texto financeiro data de 2008, em resposta à crise financeira. O GENIUS Act coloca agora os Estados Unidos na liderança das tecnologias financeiras inovadoras – os stablecoins. Este momento é histórico, e eu pessoalmente aguardo todos os resultados que essa legislação transformadora trará.

Uma votação sob tensão: entre manobras e embates

Este sucesso não foi alcançado sem dificuldades. Na quarta-feira, foram necessárias nove horas de debate para superar uma simples etapa processual. Alguns republicanos bloquearam o processo, exigindo a inclusão de uma cláusula anti-CBDC no projeto de lei de defesa.

Trump teve que convocar céticos na Casa Branca para reuni-los à sua causa. Finalmente, a maioria se alinhou. Na quinta-feira, os votos foram realizados.

Mas os democratas não aplaudiram. Maxine Waters, líder dos opositores, denunciou:

Esses projetos abrem enormes brechas em nossas leis financeiras em nome da inovação.

Ela também apontou as crescentes ligações entre Donald Trump e alguns projetos cripto, mencionando o stablecoin $TRUMP e a empresa World Liberty Financial.

Por trás dos números, uma mensagem: a cripto está se tornando um campo de batalha político, entre a defesa da inovação e suspeitas de conflitos de interesse.

Os Estados Unidos querem regulamentar sem frear: o que você precisa saber

A comunidade cripto aplaude, mas permanece vigilante. A indústria espera que essa base jurídica desbloqueie os investimentos institucionais, tranquilizando reguladores e usuários.

Ponto especial com números:

• 294 votos a favor do CLARITY Act, apesar das tensões partidárias acirradas;
• 219 contra 210, placar apertado para proibir a criação de um dólar digital ou CBDC;
• Mais de 5.000 barras de chocolate distribuídas em Washington pela Coinbase para promover a regulamentação (fonte: CNBC);
• 1 em cada 5 americanos possui cripto (Morning Consult, 2025);
• Mais de 100 democratas votaram a favor do GENIUS Act, mostrando um verdadeiro apoio transpartidário.

As vozes da indústria também ecoam: Brian Armstrong (Coinbase) saudou um avanço importante:
“Estamos a um passo de finalmente ter regras claras para permitir que a cripto cresça nos Estados Unidos“.

Enquanto os Estados Unidos aprimoram sua legislação, a Europa não fica parada. MiCA não é suficiente. Bruxelas já está trabalhando em um novo marco jurídico específico para DeFi, com uma primeira versão esperada já em 2026. Essa regulamentação pode forçar os desenvolvedores a cumprir obrigações semelhantes às dos bancos — auditorias, KYC, até capital mínimo. Uma ofensiva discreta, mas potencialmente pesada, que reacende temores de abusos autoritários em um espaço nascido para fugir das lógicas centralizadoras.