É tarde demais para comprar Bitcoin?

O preço do bitcoin beija os patamares históricos, mas o interesse que ele desperta nunca foi tão divisivo. Enquanto alguns veem nisso uma última oportunidade, outros questionam a relevância de um investimento nesse estágio. Este ano, os sinais vindos das instituições financeiras, investidores influentes e dos próprios mercados alimentam um debate estratégico: ainda vale a pena comprar bitcoin ou esse trem já passou?

A reversão das instituições: entre cautela e adoção forçada

Em 19 de maio de 2025, Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, proferiu uma frase que marca uma virada na relação histórica entre os grandes bancos e o bitcoin: “nós vamos permitir que vocês o comprem”.

Essa declaração, feita durante o Dia Anual do Investidor do banco, oficializa o acesso ao bitcoin para os clientes do JPMorgan, uma novidade para a instituição.

No entanto, Dimon não moderou seu ceticismo: “não acho que vocês deveriam fumar, mas defendo o direito de fumar de vocês”, disse ele para ilustrar sua abordagem sobre o bitcoin. Ele também reafirmou suas críticas em relação à cripto e mencionou novamente seu uso em “tráfico sexual, lavagem de dinheiro e terrorismo”.

Além disso, os sinais convergem para uma institucionalização maior do bitcoin, especialmente nos Estados Unidos:

• O decreto presidencial: Donald Trump oficializou a criação de uma Reserva Estratégica de bitcoin, financiada por ativos apreendidos, posicionando a cripto como um ativo estadual reconhecido;

• Iniciativas estaduais locais: estados americanos como New Hampshire e Arizona aprovaram leis autorizando a alocação de até 5% dos fundos públicos para criptomoedas, incluindo o bitcoin;

• Acúmulo estratégico de estados soberanos: El Salvador continua suas compras de BTC, apesar das resistências do FMI, utilizando estruturas independentes do governo para contornar bloqueios;

• Expansão pelo setor privado internacional: Metaplanet, empresa japonesa, ultrapassa El Salvador em volume de bitcoin detido, com um objetivo claro: alcançar 1% da oferta total em circulação;

• Consolidação do BTC como ativo de reserva: essas ações coordenadas de governos e empresas traduzem uma integração crescente do bitcoin nas estratégias de reserva e diversificação de longo prazo.

Essa mudança de rumo, até mesmo entre os mais céticos, mostra que o bitcoin agora se impõe como um ativo que as instituições não podem mais ignorar, mesmo quando o desaprovam publicamente.

Comprar no topo: uma aposta racional segundo os maximalistas

Enquanto alguns questionam a pertinência de comprar um ativo que acaba de bater seu recorde histórico, outras figuras do mundo financeiro veem nisso, ao contrário, uma oportunidade imperdível.

Michael Saylor, fundador da Strategy, expressou sem rodeios em 21 de maio na plataforma X:

Se você não comprar no topo histórico, estará deixando dinheiro na mesa.

Para ele, o bitcoin ainda não revelou todo seu potencial, especialmente porque os grandes bancos estão apenas começando sua incursão nesse universo.

E ele vai além: “quando os bancos finalmente abençoarem o bitcoin, todo mundo vai querer comprar, ninguém vai querer vender, e você não poderá mais pagar para comprar”.

No mesmo espírito, Robert Kiyosaki, famoso autor de “Pai Rico, Pai Pobre“, afirmou na rede social X (ex Twitter) em 26 de maio: “comprar mesmo 0,01 BTC hoje pode torná-lo muito rico em dois anos”. Ele revisou suas previsões para cima e estimou que o bitcoin pode atingir 350.000 dólares até o final deste ano.

I cannot believe how easy Bitcoin has made getting rich…so easy.

Why everyone is not buying and holding Bitcoin is beyond me.

Even .01 of a Bitcoin is going to be priceless in two years…. and maybe make you very rich.

Sure Bitcoin goes up and down….but so does real life.…

— Robert Kiyosaki (@theRealKiyosaki) May 26, 2025

Embora essas declarações possam parecer especulativas, apoiam-se numa convicção compartilhada por diversos atores: a escassez programada do bitcoin, combinada ao influxo esperado de investimentos institucionais, pode mecanicamente aumentar o preço de forma duradoura.

Essas posições otimistas vêm acompanhadas de alertas. Como lembra Arthur Azizov, fundador da B2 Ventures, toda projeção atualmente é teórica, pois não há dados históricos além desse nível de preço.

Em caso de correção, o BTC pode cair para a faixa dos 60.000 a 50.000 dólares. Contudo, para seus apoiadores mais convictos, essa volatilidade não muda o essencial, pois num mundo onde as moedas fiduciárias se deterioram, o bitcoin representaria uma reserva de valor indispensável a médio prazo e um investimento muito melhor que há dez anos. À medida que as fronteiras entre finanças tradicionais e cripto se desfocam, uma coisa é certa: o debate em torno do bitcoin está apenas começando.