Estados Unidos: A mineração de Bitcoin prejudicada por uma tributação de outro tempo

A indústria americana de mineração de bitcoin atravessa um período crítico. Entre regras fiscais arcaicas e uma pressão econômica crescente, os mineradores hoje exigem um tratamento justo em comparação com seus equivalentes nas commodities tradicionais.

Uma tributação em dois níveis que penaliza o Bitcoin

Beau Turner, CEO da Abundant Mines, aponta uma anomalia fiscal gritante. Enquanto um produtor de ouro paga imposto somente no momento da venda, os mineradores de Bitcoin sofrem uma tributação imediata já na extração.

“O IRS trata as criptomoedas mineradas como renda regular“, explica ele em uma entrevista ao TheStreet Roundtable. Essa abordagem cria uma pressão artificial em um mercado já volátil.

Essa dupla tributação, rendimentos na mineração e depois ganhos de capital na venda, empurra mecanicamente os operadores para liquidações prematuras.

Os números de março de 2025 ilustram perfeitamente esse fenômeno: as 15 principais empresas listadas venderam mais de 40% de sua produção fresca, marcando a maior onda de liquidação desde outubro de 2024.

A CleanSpark encarna essa nova realidade ao adotar oficialmente um modelo “autofinanciado” baseado em vendas regulares. Essa estratégia, ditada pelas restrições fiscais atuais, rompe com a acumulação estratégica observada após o último halving.

Turner resume a situação:

Se você tem uma conta de imposto sem ter vendido seu bitcoin, terá que liquidá-lo para pagar o Estado.

A evolução recente do Financial Accounting Standards Board (FASB), autorizando o uso da contabilidade a valor justo para bitcoin, sugere, no entanto, uma mudança na abordagem regulatória. Essa decisão, que beneficia especialmente a Strategy de Michael Saylor, pode antecipar uma harmonização fiscal tão esperada pela indústria da mineração.

Desafios externos que ampliam a crise

Além das questões fiscais, a indústria americana enfrenta uma tempestade econômica. As políticas tarifárias da administração Trump impactam fortemente as importações de equipamentos asiáticos.

Trump impôs tarifas alfandegárias superiores a 34% sobre a China, o principal fornecedor de equipamentos de mineração. Outros países asiáticos não escapam dos aumentos: de 24% a 37%, dependendo das fontes.

Com direitos aduaneiros que variam de 25% a 54% para máquinas chinesas, e aumentos similares para países como Tailândia ou Malásia, os custos de equipamento disparam de 22% a 36%.

O problema? Empresas chinesas controlam de 70% a 80% do mercado mundial de equipamentos de mineração. É impossível abrir mão delas da noite para o dia. Essa dependência transforma cada aumento tarifário em uma catástrofe financeira.

As ações das empresas mineradoras caíram imediatamente após o anúncio de Trump, e alguns especialistas preveem que a mineração americana pode se tornar “economicamente inviável”.

Diante dessa dupla pressão, alguns atores tentam se adaptar. Bitmain e Whatsminer aceleram sua instalação nos EUA para contornar as tarifas. Outros mineradores americanos consideram até mesmo a realocação para países sem tarifas alfandegárias.

Essa fuga de cérebros e capitais pode redistribuir o poder de computação global, enfraquecendo a dominação americana nesse setor estratégico.

Em suma, a indústria americana de mineração de bitcoin está em um ponto decisivo. As regras fiscais obsoletas, combinadas com tensões comerciais, criam um ambiente hostil que empurra os atores para o exílio ou liquidação forçada.

Beau Turner resume a situação sem rodeios. Seu pedido é simples:

Não pedimos tratamento especial, apenas ser tratados como qualquer outra empresa de commodities.

Uma reforma nesse sentido poderia mudar a dinâmica do mercado, reduzir vendas forçadas… e estabilizar, talvez, o preço do bitcoin.