Estratégia dos veteranos trava alta do Bitcoin

Enquanto os ETFs de Bitcoin atraem fluxos institucionais massivos e as condições macroeconômicas indicam um retorno dos ativos de risco, o preço permanece surpreendentemente estagnado abaixo de 90.000 dólares. Esse bloqueio, destoando dos sinais altistas ambiantes, chama a atenção para forças invisíveis que limitam sua progressão. Entre estratégia de rendimento e arbitragens sofisticadas, uma mecânica mais discreta parece pesar sobre o mercado, no momento em que os investidores esperam um novo impulso.

Uma pressão vendedora invisível, mas real

Segundo o analista de mercado Jeff Park, alguns dos detentores mais antigos de bitcoin, apelidados de “OG”, contribuem para frear o avanço do preço do BTC adotando uma estratégia bem conhecida no mundo dos derivativos: a venda de opções de compra cobertas.

Essa técnica permite que eles gerem renda passiva vendendo opções de compra sobre seus ativos em Bitcoin, que possuem há mais de dez anos. “Quando você já tem o inventário de bitcoin que possui há mais de dez anos e vende opções de compra sobre ele, apenas a venda dessas adiciona delta ao mercado, e essa direção é negativa”, afirma Jeff Park.

Aqui estão os principais elementos dessa mecânica que age como um freio sobre o preço da criptomoeda :

• Os “OG” vendem opções de compra sobre os BTC que já possuem, permitindo que recebam um prêmio imediato sem se desfazer de seus tokens, a menos que o preço ultrapasse o strike ;

• Os provedores de liquidez que compram essas opções precisam se proteger vendendo bitcoin à vista para limitar sua exposição ;

• Essas vendas à vista criam uma pressão artificial de baixa no preço, mesmo com forte demanda de compra ;

• O bitcoin usado nessas estratégias não vem de compras recentes, portanto não representa uma injeção de capital novo no mercado ;

• As opções de compra cobertas tornam-se uma fonte de delta negativo, segundo Park, o que significa que todo o mercado sofre uma influência vendedora estrutural.

Esse fenômeno, embora sutil para os não iniciados, explica em parte por que o bitcoin tem dificuldade para decolar apesar do entusiasmo crescente dos investidores institucionais. Em outras palavras, os OGs otimizam seus ganhos de curto prazo em detrimento da dinâmica altista de médio prazo.

Uma crescente descorrelação e tensões com os fluxos tradicionais

Enquanto as ações de tecnologia continuam a bater recordes históricos, o bitcoin parece ter desacoplado dessa dinâmica.

Desde a segunda metade do ano, analistas observam uma descorrelação clara entre o BTC e os mercados de ações, um fenômeno incomum visto que ambos evoluíam em conjunto nos ciclos anteriores.

Nesse contexto, a inação do BTC surpreende, especialmente diante da força dos fluxos de investimento via ETFs. Apesar da forte demanda pelo IBIT da BlackRock, os preços permanecem contidos. Essa anomalia é ainda mais notável porque as curvas de volatilidade observadas nos ETFs diferem agora significativamente daquelas em plataformas de derivativos cripto como a Deribit.

Várias hipóteses surgem para explicar essa inércia. Alguns analistas permanecem otimistas. Eles acreditam que a continuação do ciclo de redução das taxas pelo Fed poderia injetar uma nova onda de liquidez favorável aos ativos de risco, do qual o bitcoin se beneficiaria plenamente.

Segundo dados do CME Group (ferramenta FedWatch), 24,4% dos traders esperam uma nova queda das taxas já em janeiro de 2026. No entanto, outras vozes se mostram mais cautelosas, até céticas. Para esses especialistas, o bull run talvez já tenha passado, e uma queda para os 76.000 dólares não está descartada.

O bitcoin desaba após uma falsa esperança de recuperação, revelando os limites de um mercado sob pressão. Apesar do otimismo suscitado pelos fluxos de entrada, as estratégias defensivas de alguns atores continuam a neutralizar a dinâmica altista. A recuperação esperada terá agora que lidar com resistências mais estruturais.