GameStop reduz suas perdas trimestrais graças aos seus Bitcoins

A estratégia cripto da GameStop começa a dar frutos. A icônica rede de videogames, antes em dificuldade crônica, conseguiu limitar suas perdas no segundo trimestre de 2024 graças a uma decisão ousada: registrar o bitcoin em seu balanço. Uma aposta que ilustra o quanto a fronteira entre finanças tradicionais e ativos digitais está cada vez mais difusa.

A aposta no Bitcoin: um salva-vidas inesperado

A GameStop investiu 500 milhões de dólares na compra de 4.710 BTC, valorizados em 528,6 milhões de dólares ao final do trimestre. O resultado: um ganho não realizado de 28,6 milhões de dólares ajudou a aliviar a pressão nas contas. A empresa escolheu a Coinbase como referência para avaliar o valor justo de seus ativos, um detalhe que demonstra sua vontade de fundamentar a estratégia em uma metodologia clara.

Essa operação coloca a GameStop no seleto, mas crescente, grupo de empresas listadas que assumem uma diversificação cripto. Tesla e MicroStrategy já haviam aberto esse caminho, mas ver um varejista de videogames seguir essa trajetória confirma a ampliação do campo de adoção. Aqui, o bitcoin não é apenas um ativo especulativo: torna-se uma ferramenta de estabilização financeira, capaz de contrabalançar a queda na receita.

E isso não é casual: a alta de 18% do bitcoin desde maio teve papel direto na melhora do valor contábil da GameStop, ilustrando a correlação imediata entre a estratégia cripto e o desempenho financeiro da empresa.

Um balanço contrastante, mas uma gestão apertada

Apesar desse efeito positivo, a receita trimestral da GameStop caiu, chegando a 673,9 milhões de dólares contra 732,4 milhões anteriormente. A culpa é da queda nas vendas de hardware e software, segmentos historicamente centrais para o grupo. O resultado líquido permanece no vermelho, com prejuízo de 18,5 milhões de dólares, embora seja bem inferior ao esperado.

A diretoria, liderada por Ryan Cohen, não esperou a cripto para reorganizar a empresa. Uma captação de 2,7 bilhões de dólares via debêntures conversíveis e a venda de unidades no Canadá e na França reforçaram o caixa, hoje confortável em 6,1 bilhões de dólares (excluindo ativos digitais). Ao mesmo tempo, a redução das despesas gerais permitiu reduzir as perdas operacionais para 9,2 milhões, contra 10,8 milhões no trimestre anterior.

Esses ajustes demonstram uma vontade clara: racionalizar o modelo, diversificar os ativos e criar uma reserva de segurança para atravessar a tempestade do setor.

Entre nostalgia e inovação: a virada estratégica da GameStop

Embora as vendas de jogos físicos estejam em declínio, outro segmento surpreende pela resiliência: os itens colecionáveis. Cartas colecionáveis, figuras e produtos derivados da cultura pop representam agora quase um terço da receita. Essa tendência prova que a GameStop sabe capitalizar a nostalgia dos jogadores enquanto explora novas fontes de receita.

A inclusão do bitcoin em suas contas completa esta virada: de um lado, a empresa joga a carta emocional com a comunidade de jogadores e colecionadores, de outro, apoia-se em uma reserva digital que atrai a atenção dos investidores. Uma combinação inesperada, mas que parece convencer: as ações da GameStop avançaram 1,5% no dia seguinte ao anúncio e 5,7% no after-market, alcançando 24,94 dólares.

Essa mistura de prudência e ousadia pode muito bem se tornar a nova marca registrada da GameStop, com seu compromisso de 513 milhões. Em um setor de videogames transformado pela digitalização, a empresa prova que ainda não disse sua última palavra.