Gemini mira o Nasdaq apesar de perdas recordes em 2025

Gemini, a exchange fundada pelos irmãos Winklevoss, apresentou oficialmente seu formulário S-1 junto à SEC visando uma oferta pública inicial no Nasdaq. Em um contexto marcado pela multiplicação das IPOs crypto, essa iniciativa desperta tanto entusiasmo quanto questionamentos. As perdas repetidas da plataforma e a volatilidade persistente do mercado requerem uma análise aprofundada. Gemini conseguirá atrair Wall Street apesar dos resultados financeiros decepcionantes?

Uma IPO na linha do boom crypto de 2025

Gemini, a exchange fundada por Tyler e Cameron Winklevoss, oficialmente cruza o marco da oferta pública inicial. A plataforma tornou público na sexta-feira seu formulário S-1, dois meses depois de ter apresentado confidencialmente seu dossiê junto à Securities and Exchange Commission.

Esta iniciativa posiciona Gemini como um dos atores recentes mais importantes do setor crypto a mirar uma cotação americana, após Coinbase e o sucesso da Bullish.

A operação beneficia-se de um ambiente regulatório particularmente favorável. Desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, a SEC abandonou quase todas as suas ações contra empresas crypto.

O presidente também sancionou o GENIUS Act sobre stablecoins, criando um quadro legal mais claro para o setor. Essa política pró-crypto da administração Trump oferece às exchanges uma janela inédita de oportunidade para acessar os mercados públicos.

Os primeiros sinais do mercado confirmam o apetite dos investidores por esses ativos. Circle, emissora do stablecoin USDC, viu seu preço triplicar imediatamente após sua introdução em junho, chegando perto de 300 dólares antes de se estabilizar em torno de 149 dólares.

A Bullish também registrou um desempenho notável em suas primeiras negociações nesta semana, com uma ação que mais que dobrou em relação ao preço de emissão de 37 dólares.

Goldman Sachs, Citigroup, Morgan Stanley e Cantor conduzem a operação como principais formadores de mercado. Essa aliança de instituições de Wall Street demonstra a crescente legitimidade do setor crypto junto aos atores financeiros tradicionais. No entanto, nem o preço de introdução nem o calendário exato foram ainda comunicados pela Gemini.

Resultados financeiros que levantam questões apesar do otimismo ambiente

Os documentos depositados revelam uma situação financeira mais delicada do que sugere o entusiasmo geral pelas IPOs crypto.

A Gemini apresenta uma perda líquida de 282,5 milhões de dólares no primeiro semestre de 2025, contra apenas 41,3 milhões de dólares no mesmo período de 2024. Essa degradação espetacular, uma multiplicação por sete das perdas, levanta questões sobre a trajetória operacional da empresa.

O resultado operacional, que reflete o desempenho da atividade antes das despesas financeiras e amortizações, confirma essa tendência.

A métrica passou de um lucro de 32 milhões de dólares no primeiro semestre de 2024 para uma perda de 113,5 milhões nos seis primeiros meses de 2025. Para o ano completo de 2024, a Gemini havia registrado uma perda líquida de 158,5 milhões de dólares para uma receita de 142,2 milhões.

Esse desempenho contrasta com a dinâmica positiva do mercado crypto. Enquanto o bitcoin se mantém em níveis recorde e os volumes de negociação explodem, a incapacidade da Gemini de capitalizar essa euforia é questionável.

A empresa também opera uma reorganização estratégica de suas atividades. A maioria dos usuários americanos será transferida para “Moonbase”, uma nova entidade sediada na Flórida, enquanto a Gemini Trust manterá sua sede em Nova York.

Essa decisão responde às restrições regulatórias do Estado de Nova York, particularmente rígido via sua regulamentação BitLicense. Atualmente, a Gemini oferece staking em todos os estados americanos, exceto Nova York.

Uma aposta no futuro apesar das incertezas

O acordo de crédito firmado com a Ripple em julho de 2025 ilustra a estratégia de diversificação da Gemini. Essa facilidade de 75 milhões de dólares, extensível a 150 milhões, será denominada em RLUSD, o stablecoin da Ripple. Nenhum saque foi feito até agora, mas essa parceria demonstra a vontade de ampliar a oferta de serviços além do simples trading.

A oferta pública inicial da Gemini integra uma dinâmica mais ampla de institucionalização do setor crypto. OKX, Grayscale e Kraken também sinalizaram sua intenção de abrir capital. Essa corrida às IPOs reflete a maturidade crescente de um ecossistema por muito tempo confinado a mercados privados.

Os irmãos Winklevoss, conhecidos pelo seu papel na história do Facebook e seus investimentos precoces em Bitcoin, apostam nessa janela de oportunidade. Sua reputação como empreendedores visionários pode atrair investidores, apesar dos resultados financeiros decepcionantes. O desafio será demonstrar que a Gemini pode transformar a efervescência atual do mercado crypto em crescimento sustentável e rentável.