MiCA muito permissivo? O Banco da França pede reforço
O governador do Banco da França assume uma posição firme. François Villeroy de Galhau exige a transferência da supervisão das criptomoedas para a AEMF, sediada em Paris. Os stablecoins em dólares preocupam particularmente as autoridades francesas. A Europa conseguirá impor sua própria visão diante dos gigantes americanos do setor?
En bref
Paris quer centralizar a supervisão cripto em escala europeia
François Villeroy de Galhau fez um apelo claro durante o Fórum Fintech ACPR-AMF na última quinta-feira. O governador do Banco da França deseja confiar a supervisão direta dos emissores de criptoativos à Autoridade Europeia dos Mercados Financeiros. Essa proposta visa corrigir as fraquezas do regulamento MiCA, que atualmente depende das autoridades nacionais.
O problema é simples: vinte e sete países, vinte e sete abordagens diferentes. Alguns reguladores são mais flexíveis que outros, criando oportunidades para arbitragem regulatória. Malta ilustra perfeitamente essa distorção.
Em julho passado, a AEMF repreendeu a autoridade de Malta por ter negligenciado a autorização de uma empresa cripto. Uma licença concedida em Valletta torna-se automaticamente válida em toda a Europa graças ao sistema de “passe”. O resultado: os padrões mais flexíveis contaminam todo o mercado único.
“Também defendo, junto com o presidente da AMF, uma supervisão europeia dos emissores de criptoativos, conduzida pela ESMA“, ressaltou Villeroy de Galhau.
Seu argumento é sólido. Uma supervisão centralizada garantiria a aplicação uniforme das regras e reduziria os riscos sistêmicos. A AMF, o regulador francês, inclusive ameaçou em setembro bloquear alguns passes considerados duvidosos.
A Comissão Europeia parece receptiva. Ela está justamente preparando um projeto para transferir mais poderes às autoridades supranacionais. Verena Ross, presidente da AEMF, confirmou na segunda-feira que essa reforma criaria “um ambiente mais integrado e competitivo” para a União.
Os stablecoins em dólares, novo cavalo de Troia monetário
Além das questões de supervisão, é o crescimento dos stablecoins lastreados no dólar que alarma Paris. Villeroy de Galhau não mede palavras: esses tokens ameaçam diretamente a soberania monetária europeia.
O governador aponta uma falha grave do MiCA. O regulamento atualmente permite a “emissão múltipla”: uma mesma empresa pode criar um stablecoin dentro e fora da UE, sem obrigação de manter reservas completas em ambas as jurisdições.
Concretamente, um emissor americano poderia inundar o mercado europeu com tokens em dólar, mantendo a maior parte das garantias nos Estados Unidos. Em caso de crise, as autoridades europeias não conseguiriam apreender esses ativos para proteger os detentores locais. Uma situação que, segundo o governador, aumentaria a dependência da União em relação a atores estrangeiros não europeus e pouco regulados.
Essa preocupação vai muito além das fronteiras francesas. Chiara Scotti, vice-governadora do Banco da Itália, alertou em meados de setembro que as estruturas de emissão múltipla “comprometem a estabilidade financeira”.
O Comitê Europeu de Risco Sistêmico foi mais longe no início de outubro, recomendando diretamente a proibição dessa prática. Certamente, esse parecer não tem força de lei, mas revela um consenso crescente.
Para Villeroy de Galhau, a solução passa por “uma regulamentação muito mais rígida” para enquadrar esses esquemas. A questão vai além do aspecto técnico. Trata-se de impedir que o euro seja progressivamente substituído pelo dólar nas transações diárias dos europeus, inclusive nas digitais.
A França tem muito em jogo nessa batalha regulatória. Ao defender uma supervisão centralizada em Paris, busca impor sua visão de uma cripto regulada e soberana. Os próximos meses mostrarão se Bruxelas seguirá essa linha ofensiva contra as ambições americanas no mercado europeu.
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