O Bitcoin sob pressão por causa do dólar segundo Arthur Hayes

O mercado cripto oscila. O bitcoin perdeu mais de 10% em alguns dias e tem dificuldade para recuperar seu ímpeto. Arthur Hayes, figura emblemática do ecossistema, aponta um culpado inesperado: a contração da liquidez em dólares. Sua tese abala as análises convencionais e abre um debate sobre os verdadeiros motores do mercado.

O Bitcoin, barômetro da liquidez global segundo Hayes

Arthur Hayes, ex-chefe da BitMEX e analista reconhecido, não mede as palavras. Para ele, o bitcoin não reflete nem a regulação nem o sentimento institucional. Traduz antes de tudo as antecipações sobre a massa monetária futura. 

” O bitcoin é o barômetro do mercado livre no que toca às liquidez fiduciárias globais“, escreve ele em uma análise publicada na segunda-feira.

O BTC caiu abaixo de 90.000 dólares na manhã de terça-feira, apagando todos os seus ganhos de 2025. No entanto, índices de ações americanos como o S&P 500 ou o Nasdaq 100 estão próximos de seus topos históricos. 

Esse descompasso preocupa Hayes. Ele vê nisso o prenúncio de uma crise financeira iminente. Se os mercados de ações corrigirem de 10 a 20% e as taxas de juros permanecerem elevadas, o governo americano será obrigado a injetar liquidez em massa.

Nesse cenário, Hayes projeta um bitcoin entre 200.000 e 250.000 dólares até o fim do ano. Mas antes disso, ele prevê uma queda para 80.000 dólares. Essa previsão baseia-se na ideia de que o Federal Reserve e o Tesouro Americano adotarão uma política monetária expansionista para sustentar a economia.

Desde abril, o BTC progrediu apesar da queda da liquidez em dólares, segundo os indicadores de Hayes. Ele explica essa anomalia pelos fluxos institucionais para os ETFs de Bitcoin e pela retórica pró-cripto da administração Trump. Mas essa dinâmica mostra hoje seus limites.

Os ETFs cripto, um espelho distorcido dos fluxos institucionais

Os ETFs de Bitcoin sofreram saídas históricas nas últimas semanas. Em 14 de novembro, o IBIT da BlackRock, líder do setor, registrou uma saída recorde de 463 milhões de dólares em um único dia. Na semana, os fundos cripto internacionais perderam coletivamente 2 bilhões de dólares.

Para Hayes, esses números não revelam um repúdio ao bitcoin pelas instituições. Eles evidenciam uma estratégia financeira bem específica: o “base trade”. Essa operação consiste em comprar um ETF de Bitcoin enquanto se vende a descoberto um contrato futuro de BTC. 

Os traders aproveitam a diferença de preço entre os dois instrumentos. Cinco dos maiores detentores do IBIT são fundos de hedge como Goldman Sachs ou Jane Street, que utilizam esses produtos numa lógica de arbitragem.

“Os principais detentores do maior ETF não são compradores de bitcoin“, ressalta Hayes. 

“ Eles vendem a descoberto um contrato futuro listado no CME para lucrar com a diferença entre os dois.” 

Em abril, o JPMorgan estimava em 400 bilhões de dólares o volume dessas operações em todo o setor financeiro.

Hoje, a “base” se reduziu com a queda do bitcoin. Os fluxos que entram nos ETFs diminuem, pois essas estratégias se tornam menos lucrativas. Os investidores individuais interpretam mal esse fenômeno.

Eles acreditam que as instituições estão se afastando do bitcoin, quando na verdade apenas ajustam suas posições de arbitragem. Essa confusão cria um círculo vicioso: os pequenos investidores vendem, a base se contrai ainda mais e os fluxos institucionais recuam ainda mais.

A correção atual do bitcoin não é uma capitulação. Ela reflete um ajuste mecânico da liquidez global. Hayes chama à paciência. Se os mercados tradicionais desabarem e o Fed abrir as torneiras monetárias, o bitcoin pode disparar para cima.