O ex-chefe da Binance na mira de cibercriminosos norte-coreanos

Changpeng Zhao, figura emblemática do mundo cripto e fundador da Binance, acaba de revelar uma tentativa de invasão em sua conta do Google. Por trás desse ataque, destacam-se grupos de hackers apoiados por governos, provavelmente o temido coletivo norte-coreano Lazarus.

Quando os Estados se tornam piratas: o alerta de CZ

Ontem, Changpeng Zhao, cofundador da Binance, compartilhou no X uma notificação preocupante do Google. A mensagem o informava que uma tentativa de roubo de sua senha estava em andamento, orquestrada por “agressores apoiados pelo governo”. 

Em sua publicação, CZ mencionou imediatamente o grupo Lazarus, uma organização de hackers norte-coreanos tristemente famosa no universo cripto.

Esse alerta não é um caso isolado. Anndy Lian, especialista em blockchain e conselheiro intergovernamental, confirma que vários responsáveis governamentais receberam avisos semelhantes. 

“Conheço pessoalmente um funcionário do governo que recebeu uma mensagem semelhante à de CZ, dizendo que sua conta foi detectada por hackers apoiados pelo governo tentando roubar sua senha.”, explica ele. No entanto, o Google permanece silencioso sobre os detalhes desses ataques por razões de segurança.

O grupo Lazarus está no topo da lista de suspeitos. Esse coletivo norte-coreano é considerado o cérebro por trás dos exploits cripto mais devastadores. No dia 21 de fevereiro, eles teriam orquestrado o recorde de invasão da Bybit, roubando 1,4 bilhão de dólares, a maior quantia já furtada na indústria. Esses fundos alimentariam diretamente os cofres de Pyongyang, segundo os serviços de inteligência americanos.

Uma ameaça que se intensifica e se diversifica

O ataque contra o fundador da Binance está inserido em uma tendência alarmante. Os hackers norte-coreanos intensificaram suas operações em 2024, roubando 1,34 bilhão de dólares em 47 incidentes distintos. Esse valor representa uma explosão de 102% em relação aos 660 milhões roubados em 2023, segundo os dados da Chainalysis.

Mas a estratégia deles evolui. Três semanas antes dessa tentativa de invasão, CZ já havia soado o alarme sobre uma nova tática: a infiltração por emprego. 

“Eles se passam por candidatos a emprego na sua empresa. Isso lhes dá uma porta de entrada, especialmente para oportunidades nos setores de desenvolvimento, segurança e finanças”, alertou ele em 18 de setembro. 

A organização Security Alliance (SEAL) chegou a compilar um diretório com 60 agentes norte-coreanos operando sob identidades falsas para infiltrar plataformas cripto americanas.

Os exemplos concretos não faltam. Em junho, quatro agentes norte-coreanos disfarçados de desenvolvedores freelance conseguiram roubar 900 mil dólares de várias startups cripto. A Coinbase também foi vítima de uma violação de dados em maio, expondo informações de menos de 1% de seus usuários, mas potencialmente acarretando 400 milhões de dólares em custos de reembolso.

Diante dessa escalada, os especialistas em cibersegurança pedem uma resposta urgente. Eles recomendam a implantação de sistemas de carteira com autenticação dupla e a vigilância de ameaças por inteligência artificial em tempo real. 

A indústria cripto agora precisa lidar com adversários que dispõem de recursos estatais quase ilimitados. Enquanto isso, CZ continua suas atividades com YZi Labs, que acaba de anunciar um fundo de um bilhão de dólares para apoiar os desenvolvedores da BNB Chain.