Strategy poderia possuir 7% da oferta total de Bitcoin

Enquanto cada bitcoin se torna mais raro, a Strategy ambiciona concentrar uma parte inédita. Michael Saylor, seu cofundador, menciona a possibilidade de deter até 7% da oferta mundial de bitcoin, cerca de 1,5 milhão de BTC. Com mais de 3% já em reserva, a empresa não se limita mais a investir: ela constrói um modelo financeiro focado na acumulação estratégica do ativo. Uma trajetória que redefine os códigos do caixa empresarial na era das moedas digitais.

Uma ambição quantificada: Strategy prepara sua ofensiva de 7%

Após a aquisição de 21.000 bitcoins após uma IPO de 2,5 bilhões, Michael Saylor, presidente executivo da Strategy, declarou em entrevista à CNBC que sua empresa poderia, a longo prazo, deter entre “3 a 7%” da oferta total de bitcoin, acrescentando:

Não acredito que teremos todos os bitcoins […] Não queremos possuir tudo, queremos que cada um tenha sua parte.

Até hoje, a empresa detém 628.791 BTC, pouco mais de 3 % dos 19,9 milhões de bitcoins atualmente em circulação. Uma reserva estimada em 72 bilhões de dólares, com base em um preço do BTC de 114.692 dólares. Se a estratégia de Saylor atingir seu objetivo, isso representaria 1,47 milhão de BTC, avaliados em cerca de 169 bilhões de dólares, uma concentração inédita para uma empresa de capital aberto.

Este projeto de acumulação massiva integra uma abordagem iniciada em agosto de 2020, quando a Strategy, então fragilizada pela crise pós-COVID, deu uma guinada radical adotando o bitcoin como ativo de reserva. Esta orientação baseia-se num mecanismo de aquisição estruturado, detalhado pelos seguintes números:

• 628.791 BTC atualmente detidos, fazendo da Strategy o maior detentor corporativo de bitcoin no mundo;

• Uma valorização atual de 72 bilhões de dólares, mais que o PIB de muitos países;

• 2.488 % de valorização na ação MSTR desde a primeira aquisição de BTC em 2020;

• Uma estratégia sustentada pela emissão regular de dívidas, permitindo que a Strategy continue comprando sem precisar vender seus ativos;

• Um objetivo teórico de 7 % da oferta total, equivalente a 1,47 milhão de BTC, para uma capitalização potencial de 169 bilhões de dólares.

A abordagem, inicialmente vista como ousada, mudou radicalmente a percepção da Strategy nos mercados financeiros. Sua ação, embora tenha caído mais de 6 % para ficar abaixo de 380 dólares, continua sendo um dos veículos preferidos por investidores que desejam se expor indiretamente ao bitcoin.

Uma empresa fora do comum e um modelo com limites visíveis

Durante a apresentação dos resultados do segundo trimestre, Michael Saylor declarou que, mesmo se o preço do bitcoin caísse entre 80 e 90%, a empresa seria capaz de atravessar essa tempestade sem vender uma única moeda.

Uma declaração ousada, que traduz uma confiança absoluta na resiliência de sua estratégia. Essa postura extrema, assumida por seu arquiteto, baseia-se em grande parte numa antecipação de longo prazo: “não queremos possuir tudo, queremos que cada um tenha sua parte”, ponderou Saylor na mesma entrevista, mantendo o objetivo ambicioso dos 7 %. Esta comunicação deixa poucas dúvidas sobre a vontade da Strategy de continuar sua acumulação, independentemente dos altos e baixos do mercado.

A mecânica financeira por trás dessa estratégia baseia-se no efeito alavancagem. A empresa emite regularmente dívidas, às vezes conversíveis, para financiar suas compras de BTC. Ela planeja levantar ainda 4,2 bilhões de dólares nesse sentido.

Se o preço do bitcoin continuar a subir, essa abordagem pode continuar a gerar lucros recordes como os 10 bilhões anunciados no segundo trimestre. No entanto, inversamente, uma queda brusca no mercado poderia ter efeitos em cascata nos mercados de ações tradicionais, já que a Strategy está agora fortemente correlacionada ao preço da cripto.

A ação MSTR tornou-se assim uma espécie de proxy do bitcoin na Nasdaq, com todos os riscos de volatilidade e especulação que isso implica. Além disso, alguns analistas, como na Benchmark, elevaram sua meta de preço para 705 dólares, enquanto outros se preocupam com a sustentabilidade de tal modelo a longo prazo.

Essa acumulação frenética levanta questões sobre o impacto de tal concentração em um ativo que deveria ser descentralizado. Se a Strategy realmente atingir os 7 %, a empresa deterá mais BTC do que todos os governos mundiais juntos. Essa concentração pode alterar as dinâmicas do mercado, especialmente em casos de crise de liquidez ou regulação reforçada, como evidenciado pela aprovação do Genius Act nos Estados Unidos. Enquanto alguns veem essa atitude como um compromisso visionário, outros destacam o risco sistêmico que representa uma empresa privada monopolizando uma parte tão importante de um ativo global.