Tensões tarifárias e dólar forte seguram rally cripto

O dólar desacelerou, mas os mercados globais prenderam a respiração. Depois de três semanas de alta, a nota verde perde terreno, impulsionada por um relatório de emprego mais vigoroso do que o esperado. No entanto, persistem tensões: um crescimento que se mantém, taxas congeladas, incertezas tarifárias duradouras. As criptomoedas não escapam a esse balé monetário. Para os traders de cripto, cada sobressalto do dólar redesenha o mapa de risco, desloca a fronteira da volatilidade e recompõe as expectativas de liquidez.

Um mercado de trabalho robusto que redefine as expectativas monetárias

Os últimos números do emprego nos Estados Unidos superaram as expectativas dos analistas. De fato, o relatório publicado na sexta-feira mostra que 177.000 empregos não agrícolas foram criados em abril, contra 130.000 esperados.

Paralelamente, o número de março foi revisado para baixo, passando de 228.000 para 185.000. Essa manutenção de um ritmo sólido no mercado de trabalho reforça a cautela dos responsáveis monetários.

Jason Pride, diretor de pesquisa em estratégia de investimentos na Glenmede, afirmou :

O relatório de emprego de hoje provavelmente permite ao Fed adotar uma abordagem mais paciente em relação às quedas de taxa este ano.

Ele esclareceu que o banco central está tentando avaliar “se o maior risco é a estagnação ou a inflação”, em um contexto de pressões tarifárias persistentes.

Os mercados revisaram suas expectativas de política monetária, como evidenciado por vários indicadores-chave observados após a divulgação dos dados :

• A probabilidade de uma redução das taxas em junho caiu para 35,6 %, contra 58 % no dia anterior ;
• O mercado futuro agora incorpora apenas três reduções de taxa de 25 pontos-base até o final deste ano, contra quatro anteriormente ;
• O dólar, que havia se valorizado durante a semana, reduziu seus ganhos após a divulgação, embora mantendo uma tendência semanal de alta ;
• O euro fechou a semana em baixa de 0,5 % frente ao dólar, sua maior queda semanal desde metade de março.

Essa configuração reforça a ideia de que o Fed pode não agir antes do verão, o que prolonga um período de espera monetária. Para os mercados criptográficos, isso significa que as condições para um apoio via flexibilização monetária, frequentemente catalisador de altas, ainda não estão reunidas. A solidez do dólar continua sendo um fator de pressão sobre ativos de risco, o que freia os impulsos de alta do mercado.

A diplomacia comercial reaviva a especulação nos mercados

Paralelamente aos dados econômicos, foram as tensões comerciais e os sinais diplomáticos que alimentaram a volatilidade do dólar no final da semana. Na noite de quinta-feira, o secretário de Estado Marco Rubio indicou na Fox News que discussões com a China podem recomeçar em breve.

Essa declaração seguiu um sinal de abertura de Pequim para a retomada das negociações. Na sexta-feira, o Ministério do Comércio chinês confirmou que está avaliando uma proposta americana que visa reativar as discussões sobre tarifas alfandegárias impostas no início de abril.

Além disso, a China consideraria tomar medidas relativas à sua responsabilidade na cadeia de produção do fentanil, em resposta às pressões americanas. Esses elementos contribuíram para reforçar o otimismo dos mercados, que agora antecipam uma possível desescalada.

Em nível internacional, o Japão também intensificou seu diálogo com Washington. O negociador Ryosei Akazawa relatou ter aprofundado as discussões com o secretário americano do Tesouro, Scott Bessent, sobre temas ligados ao comércio, medidas não tarifárias e segurança econômica.

O ministro japonês das Finanças, Katsunobu Kato, chegou a mencionar a possibilidade de usar os mais de 1.000 bilhões de dólares em títulos do Tesouro americano detidos por Tóquio como alavanca estratégica. Esses elementos reforçam a hipótese de uma reconfiguração das relações de força comerciais, com potenciais consequências sobre a estabilidade do dólar e, por consequência, sobre os mercados financeiros globais.

Para as criptomoedas, as implicações não são negligenciáveis. Por um lado, um dólar que se fortalece com base no retorno da confiança comercial pode limitar o apelo desses ativos, considerados valores-refúgio alternativos. Por outro lado, a perspectiva de uma normalização geopolítica poderia restaurar a confiança nos mercados, o que favoreceria indiretamente um aumento do apetite pelo risco. Contudo, os dados de atividade podem continuar fortes por mais alguns meses devido à antecipação das tarifas, antes de uma queda nos gastos e de demissões mais à frente no verão. Se esse cenário se confirmar, a volatilidade poderá voltar com força ao mercado cripto já no terceiro trimestre.