Um conselheiro de Putin acusa os Estados Unidos de manipular sua dívida via stablecoins

Desde Moscou, as acusações se multiplicam. Um conselheiro próximo de Vladimir Putin afirma que Washington utiliza stablecoins e ouro para aliviar o peso esmagador de uma dívida pública que agora ultrapassa 37 000 bilhões de dólares. Uma estratégia que, se confirmada, poderia abalar o equilíbrio das finanças mundiais.

Washington sob o fogo das acusações russas

Anton Kobyakov, conselheiro do presidente russo, fez nesta segunda-feira um ataque frontal contra a estratégia monetária americana. 

Durante o Fórum Econômico Oriental de Vladivostok, ele declarou que os Estados Unidos tentam reescrever as regras do mercado do ouro e das criptomoedas. Para ele, essa abordagem visa remediar com urgência a queda de confiança no dólar.

O responsável russo traça um paralelo impressionante com crises passadas. “Como nas décadas de 1930 e 1970, os Estados Unidos planejam resolver seus problemas financeiros à custa do mundo todo, desta vez empurrando todos para o “cloud crypto””, afirma ele. Washington estaria segundo ele “empurrando todo mundo para o cloud criptográfico ”.

A tese apresentada por Kobyakov é simples: ao transferir parte de sua dívida para stablecoins lastreadas no dólar, os Estados Unidos conseguiriam desvalorizar seu valor real. Uma espécie de reinicialização financeira, oferecendo a Washington a possibilidade de « recomeçar do zero ». 

No entanto, o conselheiro russo não detalhou os mecanismos técnicos que permitiriam tal operação, deixando uma interrogação sobre a viabilidade desse cenário.

A amplitude do desafio é vertiginosa. A dívida nacional americana atinge agora 37 430 bilhões de dólares, segundo dados do Tesouro. Esse valor representa mais de dez vezes o nível de 1981. Uma escalada que se acelera: nos 33 anos anteriores a 1981, essa dívida oscilava entre 3 330 e 3 660 bilhões.

Stablecoins, nova arma geopolítica americana

Os responsáveis americanos apresentam uma interpretação bem diferente dessa estratégia que associa cripto e dívida. Para Washington, os stablecoins não são um instrumento de desvalorização, mas um escudo destinado a preservar a dominação mundial do dólar. 

“Manteremos o dólar americano como moeda de reserva dominante no mundo e usaremos os stablecoins para conseguir isso”, afirmou em março passado o Secretário do Tesouro, Scott Bessent.

Essa visão encontra um eco concreto na lei do Bitcoin da senadora Cynthia Lummis. O texto prevê a aquisição pelo governo de um milhão de bitcoins em cinco anos. Esses ativos seriam mantidos por duas décadas, a menos que usados para quitar a dívida federal.

O ex-presidente da Câmara dos Representantes Paul Ryan ressaltou em julho de 2024 outra vantagem dos stablecoins. Para ele, os stablecoins lastreados no dólar americano criam uma demanda pela dívida pública dos EUA e permitem manter uma vantagem competitiva em relação à China. Eles também reduzem o risco de falha nas leilões de dívida, evitando assim uma crise potencial.

A estratégia se consolidou neste verão com a assinatura por Donald Trump do GENIUS Act, uma lei que regula e estrutura a emissão de stablecoins lastreados no dólar. Washington pretende assim institucionalizar uma ferramenta capaz de estender a dominação do dólar verde.

Em reação, Moscou prepara sua própria contra-ofensiva: o lançamento do A7A5, um stablecoin lastreado no rublo e emitido na blockchain Tron. O objetivo declarado: reduzir a dependência do Tether (USDT). Essa iniciativa se insere em uma dinâmica mais ampla de desdolarização já iniciada por Pequim, que se afasta progressivamente dos Títulos do Tesouro em favor do ouro e ativos alternativos.