Xi Jinping e Vladimir Putin boicotam a cúpula dos BRICS no Rio
Rio se prepara para sediar uma cúpula dos BRICS sob alta tensão, marcada por duas ausências históricas: Xi Jinping e Vladimir Putin. O presidente chinês se retira pela primeira vez desde 2013, enquanto seu homólogo russo permanece no Kremlin, alvo de um mandato de prisão do TPI. No momento em que o bloco quer se afirmar frente ao dólar e fortalecer sua influência, essas desistências fragilizam a unidade do grupo e geram dúvidas sobre sua trajetória geopolítica.
Em resumo
- Xi Jinping não participará da cúpula dos BRICS no Rio, a primeira vez desde que assumiu o cargo em 2013.
- Pequim menciona um conflito de agenda, mas um jantar de Estado oferecido a Modi por Lula pode ter causado o desconforto.
- Vladimir Putin, por sua vez, está ausente devido ao mandato de prisão do Tribunal Penal Internacional.
- A cúpula dos BRICS 2025 será realizada sem suas duas figuras dominantes, simbolicamente enfraquecendo o evento.
Uma retirada de figuras-chave: Xi e Putin ausentes no Rio
Enquanto os BRICS pretendiam acelerar a dedolarização após a cúpula deste ano, Xi Jinping não participará deste encontro nos dias 6 e 7 de julho de 2025 no Rio de Janeiro. Trata-se de uma virada diplomática notável, pois o presidente chinês nunca faltou a uma reunião do grupo desde 2013, incluindo as edições virtuais durante a pandemia.
Pequim oficializou um “conflito de agenda”, mas vários diplomatas mencionam uma irritação relacionada ao convite brasileiro a Narendra Modi para um jantar de Estado, percebido como um desaforo à China. Nesse contexto, quem representará Pequim no Rio será o Primeiro-Ministro Li Qiang, como já havia ocorrido no G20 na Índia em 2023.
A Rússia, por sua vez, confirmou a ausência de Vladimir Putin, impedido pelo mandato de prisão emitido pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Embora o Kremlin tenha mantido a dúvida por um tempo, sua ausência já não é mais questionada. Essas duas desistências, por motivos distintos mas simbolicamente pesados, alteram profundamente o equilíbrio da cúpula. Aqui estão os principais fatos a serem destacados:
- Xi Jinping será substituído por Li Qiang, uma delegação de nível inferior, apesar da importância estratégica da cúpula;
- O Brasil, país anfitrião, esperava sua presença após dois encontros bilaterais entre Lula e Xi em menos de um ano (G20 2024, fórum China-Celac 2025);
- O jantar de Estado em honra a Modi pode ser a razão do desconforto chinês, sugerindo uma tensão entre Pequim e Nova Délhi;
- Putin, por sua vez, está ausente por razões judiciais: como o Brasil é signatário do Estatuto de Roma, ele corria o risco legal de ser preso em seu território;
- Essas ausências reduzem de fato o alcance simbólico e político da cúpula, justamente no momento em que os BRICS se esforçam para ampliar sua influência.
A retirada coordenada, embora não concertada, da China e da Rússia nesse encontro diplomático central põe em questão a capacidade dos BRICS de mostrar uma unidade estratégica em um contexto geopolítico cada vez mais fragmentado.
Uma dinâmica econômica e monetária em pausa
A ausência conjunta de Xi Jinping e Vladimir Putin vai além de uma questão de protocolo diplomático. Ela pode ter consequências diretas nas ambições econômicas e financeiras dos BRICS, especialmente no projeto estratégico da moeda comum, apresentada como um instrumento para dedolarização.
Esse projeto, frequentemente mencionado nos discursos oficiais de Moscou e Pequim, objetivava criar uma alternativa credível ao sistema monetário dominado pelo dólar americano. Contudo, sem a participação ativa dos dois principais motores dessa iniciativa, parece improvável que avanços concretos sejam anunciados na cúpula do Rio.
O porta-voz chinês Guo Jiakun ressalta que “em um mundo volátil e turbulento, as nações dos BRICS mantêm sua vontade estratégica e trabalham juntas pela paz, estabilidade e desenvolvimento mundial”.
No entanto, essa retórica, apesar de tranquilizadora, esconde uma realidade mais incerta. As divergências internas do grupo, exacerbadas pelas rivalidades entre China e Índia, dificultam decisões coletivas.
A decepção do Brasil com a desistência de Xi também pode enfraquecer o impulso diplomático da presidência brasileira, justamente quando Lula esperava fazer da cúpula deste ano uma vitrine de cooperação Sul-Sul fortalecida. Quanto aos países recentemente integrados ou convidados (Irã, Egito, Etiópia…), sua margem de influência segue limitada na arbitragem dos grandes rumos.
A médio prazo, essa configuração enfraquecida pode atrasar alguns projetos estruturantes do bloco, incluindo as discussões sobre um possível stablecoin dos BRICS ou uma blockchain soberana, temas acompanhados de perto pela esfera cripto.
Embora nenhum dos projetos esteja oficialmente suspenso, sua credibilidade depende em grande parte da vontade política dos pesos-pesados que são China e Rússia. A retirada parcial deles da cúpula do Rio lança um véu de incerteza sobre a agenda tecnológica do grupo, ainda apresentada como uma alternativa aos padrões ocidentais nas finanças digitais.
Em definitivo, a cúpula do Rio, esvaziada de dois dos seus protagonistas principais, corre o risco de parecer um encontro perdido. Oferecerá provavelmente uma vitrine de continuidade institucional, porém sem as decisões estruturantes esperadas. A longo prazo, essa sequência pode motivar os BRICS a repensar sua governança e seu método de coordenação, correndo o risco de perder credibilidade diante dos mercados e de atores como Ron Paul, que viam neles uma verdadeira alternativa ao sistema econômico ocidental.
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Diplômé de Sciences Po Toulouse et titulaire d'une certification consultant blockchain délivrée par Alyra, j'ai rejoint l'aventure Cointribune en 2019. Convaincu du potentiel de la blockchain pour transformer de nombreux secteurs de l'économie, j'ai pris l'engagement de sensibiliser et d'informer le grand public sur cet écosystème en constante évolution. Mon objectif est de permettre à chacun de mieux comprendre la blockchain et de saisir les opportunités qu'elle offre. Je m'efforce chaque jour de fournir une analyse objective de l'actualité, de décrypter les tendances du marché, de relayer les dernières innovations technologiques et de mettre en perspective les enjeux économiques et sociétaux de cette révolution en marche.
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