Yuan digital: A China acelera sua implantação internacional

O Banco Popular da China (PBOC) acaba de inaugurar em Xangai um centro internacional dedicado ao yuan digital. Um sinal forte: Pequim quer impor seu e-CNY como pivô de uma nova ordem monetária mundial. Essa iniciativa pode realmente desafiar a hegemonia do dólar e concorrer com os stablecoins dominados pelo dólar americano?

Um centro de operações em Xangai, a nova vitrine do yuan digital

Na quinta-feira, o Banco Popular da China inaugurou em Xangai seu Centro Internacional de Operações para o yuan digital (e-CNY). O anúncio foi feito por Lu Lei, vice-governador do PBOC, que descreveu essa decisão como uma “inevitabilidade histórica” na evolução dos pagamentos. 

O objetivo é claro: estabelecer uma infraestrutura robusta capaz de fluidificar os pagamentos e lançar as bases para uma integração internacional das CBDC.

A China trabalha em seu projeto de CBDC desde 2014. Mas essa nova etapa marca uma aceleração. Ela ocorre num contexto em que Pequim quer reduzir sua dependência do dólar americano, principalmente para transações internacionais. 

Como lembrou em junho o governador Pan Gongsheng durante o Fórum de Lujiazui, a ambição é criar um sistema monetário “multipolar”, onde várias moedas possam coexistir e apoiar o crescimento global.

Além da inovação financeira, este centro tem uma forte dimensão geopolítica. As tradicionais infraestruturas de pagamentos transfronteiriços, como a SWIFT, são vistas por Pequim como vulneráveis e facilmente instrumentalizadas no contexto de sanções econômicas. 

Ao desenvolver sua própria rede, a China pretende consolidar sua soberania monetária e se proteger contra eventuais pressões externas.

CBDC vs stablecoins, um duelo para o futuro dos pagamentos

A inauguração do centro de Xangai ocorre enquanto a China desacelera seus projetos de tokenização de ativos reais em Hong Kong. Pequim parece, portanto, priorizar o desenvolvimento do yuan digital em relação aos RWA.

Essa escolha ocorre num contexto internacional marcado pela ascensão dos stablecoins lastreados no dólar. Estes já facilitam as transações globais e representam mais de 98% de um mercado estimado em 288 bilhões de dólares. 

Diante dessa hegemonia, a China quer reverter a tendência promovendo um uso global do yuan digital. Segundo a Reuters, ela pode até autorizar a emissão de stablecoins denominados em yuan, uma mudança estratégica importante após anos de desconfiança em relação às criptomoedas.

A competição promete ser direta: de um lado, stablecoins dominados pelo mercado, amplamente adotados pelo ecossistema cripto; do outro, CBDCs rigorosamente controladas pelos bancos centrais. 

Pequim aposta em seu poder econômico e em sua rede de alianças comerciais para impor o e-CNY, especialmente entre os países dos BRICS e da Organização de Cooperação de Xangai.

Com esse centro de operações, a China avança claramente suas peças na batalha monetária mundial. Seu objetivo é duplo: posicionar o yuan digital como uma alternativa crível ao dólar e limitar a influência dos stablecoins dominados pelos Estados Unidos. Uma aposta ambiciosa que pode redesenhar o equilíbrio financeiro internacional na próxima década.