Vitalik Buterin alerta: Ethereum pode perder sua posição de liderança

Quando Vitalik Buterin fala, o planeta blockchain ouve atentamente. Desta vez, ele não lançou um novo protocolo nem anunciou uma revolução tecnológica. Não, o que ele apresentou na ETHCC 2025 foi uma dúvida existencial. Um alerta vermelho. O Web3, que deveria nos libertar das correntes das instituições centralizadas, estaria reproduzindo seus defeitos. E o Ethereum, a nave-mãe do mundo cripto, poderia muito bem se tornar uma concha vazia, se seus princípios fundadores forem esquecidos.

Ethereum e a ilusão de liberdade: três testes para distinguir o real do falso

Em uma sala cheia na Conferência da Comunidade Ethereum em Cannes, Vitalik Buterin, fiel ao seu estilo despojado, pintou um cenário sem filtro: o Web3 está em um ponto de inflexão. Não basta mais agitar a palavra “descentralização” como um estandarte para reivindicá-la. É preciso provar sua resiliência.

Aqui estão os três testes que todo projeto cripto deve passar:

• O teste da retirada: se a equipe desaparecer, o aplicativo ainda funciona?
• O teste de ataque interno: o que um colaborador mal-intencionado pode fazer?
• A base de confiança: quantas linhas de código realmente podemos acreditar sem questionar?

Esses critérios não são teóricos. Eles visam desmascarar as falhas nas L2 que podem ser atualizadas com um clique, ou nas interfaces de aplicativos que dão uma ilusão de controle ao usuário enquanto mantêm as chaves da casa.

Se perdermos isso, o Ethereum se tornará apenas um fenômeno de geração, que desaparecerá como tantos outros.

Vitalik Buterin

A cripto se tornou mainstream… correndo o risco de se perder?

Vitalik Buterin não se limitou a uma auditoria técnica. Ele também ofereceu uma leitura histórica do momento. Para ele, o mundo cripto saiu da era artesanal. Acabaram-se os “geeks na garagem”. Espaço para gigantes e chefes de Estado.

Ele até cita Donald Trump, recentemente convertido à causa cripto. Para Vitalik, isso é sinal de que o underground morreu. E se o espaço cripto se tornar um mercado conduzido pelas mesmas lógicas da finança tradicional, o que resta do sonho inicial?

Ele adverte: o Android democratizou o Linux, mas ao custo de um ecossistema cheio de softwares espiões.

O telefone Android padrão está cheio de softwares espiões… um ecossistema muito misto.

Vitalik Buterin

Devemos aceitar que a blockchain se torne uma cópia fiel desse modelo, sem a promessa de emancipação?

Governança, privacidade e números: Vitalik quer um Ethereum útil e confiável

Mas nem tudo é negativo. Para Buterin, existem soluções. Ele defende uma confidencialidade nativa: mais privacidade como opção, cada vazamento é um bug. As interfaces front-end devem ser estáticas, hospedadas via IPFS, resistentes a ataques.

Ele também critica as DAOs com votos compráveis, essas falsas democracias disfarçadas de governança descentralizada. E coloca essa pergunta simples: “O que você está construindo torna seus usuários mais livres?“

Alguns números e realidades:

• 60% das L2 usam chaves de atualização ativáveis sem o usuário;
• Mais de 70% das interfaces dApps são vulneráveis a ataques front-end;
• As RPCs (Remote Procedure Calls) muitas vezes vazam dados para servidores centralizados;
• Em 1 em cada 3 DAOs, um punhado de endereços detém mais de 80% dos direitos de voto;
• 9 em 10 projetos que integram ZK Proof falham em ocultar o histórico completo das transações.

É por isso que Vitalik defende uma mudança de direção técnica e ética.

O Ethereum avança, impulsionado pelos desafios da privacidade, da redução das taxas de gás e de uma governança mais justa. Em todas as frentes, o gênio de 31 anos atua como engenheiro e filósofo. Mas, enquanto isso, do outro lado do rio, Charles Hoskinson da Cardano não se contém: ele qualifica o Ethereum como uma ditadura controlada por Vitalik Buterin, denunciando uma hipocrisia em relação à descentralização. A batalha de visões está apenas começando.