As empresas podem controlar 50% dos Bitcoins até 2045

Até 2045, 50% dos bitcoins podem ser capturados por grandes empresas, segundo um especialista. Esse cenário preocupante ameaça a essência do bitcoin. Antes símbolo da descentralização, ele pode se tornar uma ferramenta controlada por uma elite financeira, fragilizando a liberdade e o futuro da cripto.

O fortalecimento das empresas na posse do bitcoin

As empresas hoje utilizam estratégias financeiras complexas para acumular massivamente bitcoins. MicroStrategy, que se tornou Strategy, ilustra perfeitamente essa dinâmica. Por meio de emissões de dívida de alto rendimento, essa empresa capta capital institucional para comprar BTC em grande escala. Obrigações que oferecem cupons de 8 a 10%, raros nos mercados tradicionais, atraem investidores em busca de rendimento num contexto de taxas baixas.

Outros atores como Metaplanet no Japão ou 21 Capital, apoiada por pesos pesados como SoftBank e Tether, seguem esse caminho. Essas empresas formam uma nova indústria de tesouraria bitcoin, canalizando enormes fluxos de capital — estimados em 318 trilhões de dólares no total — para a aquisição de BTC. Jesse Myers, COO da Onramp, antecipa que elas deterão 10,5 milhões de bitcoins, ou seja, 50% da oferta total, até 2045. Esse fenômeno não é mais marginal, mas sim uma tendência estrutural do mercado.

Qual o impacto para investidores individuais e para o ecossistema bitcoin?

Para pequenos detentores de bitcoin, essa concentração crescente representa um duplo desafio. Por um lado, a liquidez do mercado pode diminuir, tornando as operações de compra e venda mais caras e complexas. Por outro lado, sua influência no mercado seria enfraquecida diante do crescente poder das grandes empresas.

Por outro lado, a entrada maciça de capital institucional oferece algumas vantagens notáveis para o BTC. Entre elas:

• Um reconhecimento e estabilidade maiores, capazes de sustentar a valorização e a durabilidade do bitcoin;
• Uma estruturação mais sólida do ecossistema e uma integração reforçada nos circuitos financeiros tradicionais.

Essa evolução obriga a comunidade bitcoin a repensar seu posicionamento. Torna-se crucial preservar:

• Um equilíbrio entre a adoção institucional e a manutenção de uma verdadeira descentralização;
• A promessa de um ativo livre e democrático, que não deve ser eclipsado por lógicas puramente capitalistas.

Consequências para a descentralização e o controle da rede

Infelizmente, essa crescente concentração do bitcoin nas mãos das empresas fragiliza seu princípio fundamental: a descentralização. De fato, quando metade dos BTC estiver em posse de um número restrito de companhias, seu poder financeiro estará centralizado. Isso poderia:

• Influenciar a liquidez do mercado;
• Atingir a volatilidade;
• Conferir a uma minoria de atores controle indireto sobre a governança econômica do ecossistema;
• Provocar manipulações no mercado;
• Criar insegurança na rede bitcoin, que hoje se baseia numa ampla dispersão dos atores;
• Atingir a confiança dos usuários, base da legitimidade do BTC.

O bitcoin entra numa nova era dominada pelas empresas, abalando seu ideal descentralizado. Essa concentração levanta um debate crucial: o BTC continuará sendo uma ferramenta de liberdade financeira ou se tornará um ativo controlado por interesses corporativos? O futuro da cripto depende agora dessa escolha.