BRICS no Rio: As decisões mais importantes que você precisa conhecer
Enquanto os equilíbrios mundiais se redesenham, a cúpula dos BRICS no Rio esboçou os contornos de uma influência multipolar mais afirmada. Por trás da ausência notável de Xi Jinping e Vladimir Putin, as discussões resultaram em propostas concretas: reforma das instituições internacionais, cooperação climática reforçada, regulação da inteligência artificial. Menos espetacular, mas mais estratégica, esta edição informa sobre as ambições do Sul global, ao mesmo tempo em que revela as tensões latentes que fragilizam a coerência de um bloco em busca de credibilidade.
Em resumo
- A cúpula dos BRICS 2025 foi realizada no Rio em um contexto de grandes expectativas geopolíticas, apesar da ausência de Putin e Xi Jinping.
- Os BRICS publicaram uma declaração conjunta solicitando a reforma das instituições multilaterais, incluindo a ONU, o FMI e o Banco Mundial.
- O grupo apoia a entrada do Brasil e da Índia no Conselho de Segurança da ONU para reforçar a representatividade do Sul global.
- A cúpula marca uma crescente vontade dos BRICS de estruturar uma influência duradoura no tabuleiro mundial, sem confronto direto com o Ocidente.
Reformar a ordem mundial: a agenda reivindicativa do Sul global
A cúpula dos BRICS, realizada no Rio, resultou em uma declaração comum intitulada “reforçar a cooperação do Sul global para uma governança mais inclusiva e sustentável”, na qual os membros manifestaram uma vontade renovada de repensar a arquitetura da governança internacional.
O texto apela principalmente para reforçar a representatividade do Sul global dentro das principais instituições multilaterais. Os BRICS reivindicam explicitamente que o Brasil e a Índia acessem o status de membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, destacando a necessidade “de uma reforma do sistema das Nações Unidas para torná-lo mais justo, eficaz e representativo”.
Da mesma forma, a declaração insiste na necessidade de um reequilíbrio do poder decisório dentro do FMI e do Banco Mundial, considerando que chegou a hora de “revisar os direitos de voto para refletir as realidades econômicas atuais”.
Além das reivindicações institucionais, o comunicado final destaca vários eixos de ação compartilhados pelos membros do grupo, refletindo a vontade de articular seu peso diplomático em questões globais. Os principais compromissos assumidos na cúpula são os seguintes:
- O clima: adoção de um novo marco de cooperação antes da COP30, que ocorrerá em Belém em novembro de 2025. Este marco visa harmonizar as posições do Sul global nas políticas climáticas e aumentar sua capacidade de influência nas negociações internacionais.
- Tecnologias: os BRICS defendem uma governança mundial mais inclusiva da inteligência artificial, considerando que os países do Sul ainda estão muito marginalizados nas discussões estratégicas sobre normas, riscos e usos dessa tecnologia.
- Paz e segurança: o texto pede a desescalada das tensões internacionais, condenando atentados recentes em território iraniano (membro dos BRICS) e ataques a infraestruturas civis russas. Também expressa apoio a uma paz duradoura no Oriente Médio, especialmente em Gaza.
Por meio desse conjunto de posições, os BRICS buscam se impor como um ator coletivo estruturado, capaz de influenciar as regras do jogo mundial sem necessariamente confrontar diretamente as potências ocidentais. Essa estratégia de consolidação diplomática constitui a primeira etapa de uma autonomia internacional que, para se tornar real, deverá agora se concretizar em instrumentos tangíveis.
Uma alternativa financeira em gestação: a promessa do BRICS Multilateral Guarantees
Além das reivindicações políticas, um ponto mais discreto, mas potencialmente decisivo, emergiu das discussões no Rio: a proposta de criação de um dispositivo inédito denominado BRICS Multilateral Guarantees.
Inspirado no modelo da MIGA (Agência Multilateral de Garantia de Investimentos do Banco Mundial), este projeto visa fornecer garantias de investimento para projetos de infraestrutura e desenvolvimento nos países do Sul.
O objetivo é claro: reduzir o risco político percebido pelos investidores internacionais e, assim, atrair mais capitais para regiões ainda consideradas muito instáveis ou pouco seguras. Segundo os termos do comunicado, essa estrutura teria por objetivo “facilitar os fluxos de investimento através do Sul global, inclusive além do perímetro dos países dos BRICS”.
Este projeto se insere numa lógica de desintermediação em relação às grandes instituições financeiras ocidentais, mas sem ruptura abrupta. O comunicado esclarece, de fato, que não se trata de uma ferramenta reservada aos membros, abrindo caminho para uma cooperação ampliada.
Essa abordagem pragmática reflete uma forma de realismo econômico: os BRICS, apesar de sua vontade de emancipação, estão conscientes das limitações estruturais de suas economias e buscam mecanismos de ancoragem progressivos nos circuitos globais. Por enquanto embrionária, a iniciativa deverá ser objeto de discussões aprofundadas até 2026, sob a futura presidência indiana do grupo.
Esse passo rumo a uma arquitetura financeira paralela pode ter repercussões em médio prazo sobre a forma como os projetos de infraestrutura são financiados no Sul. Se concretizada, a iniciativa poderia oferecer uma verdadeira alternativa às garantias fornecidas pelos financiadores ocidentais, ao mesmo tempo em que reforça a credibilidade econômica dos BRICS. Contudo, seu sucesso dependerá de muitos fatores: o volume dos compromissos financeiros, as modalidades de governança e a capacidade de manter coesão entre membros com interesses por vezes divergentes. A Índia, que presidirá o grupo em 2026, terá a pesada tarefa de levar essa ambição à maturidade.
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Diplômé de Sciences Po Toulouse et titulaire d'une certification consultant blockchain délivrée par Alyra, j'ai rejoint l'aventure Cointribune en 2019. Convaincu du potentiel de la blockchain pour transformer de nombreux secteurs de l'économie, j'ai pris l'engagement de sensibiliser et d'informer le grand public sur cet écosystème en constante évolution. Mon objectif est de permettre à chacun de mieux comprendre la blockchain et de saisir les opportunités qu'elle offre. Je m'efforce chaque jour de fournir une analyse objective de l'actualité, de décrypter les tendances du marché, de relayer les dernières innovations technologiques et de mettre en perspective les enjeux économiques et sociétaux de cette révolution en marche.
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