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Criptomoedas e inflação: O caso da Argentina e da Venezuela

Thu 12 Jun 2025 ▪ 7 min de leitura ▪ por Fernanda G.
Investimento

Quando a inflação se torna parte da rotina diária, as pessoas procuram alternativas para proteger seu dinheiro. Na América Latina, dois dos exemplos mais extremos de hiperinflação são Venezuela e Argentina. Em ambos os casos, as criptomoedas ganharam espaço como solução diante da perda de valor do dinheiro, tornando-se ferramentas chave de poupança, investimento ou simples subsistência. Estamos diante de uma solução temporária ou iniciando uma mudança estrutural em como o dinheiro circula na região?

Argentina y Venezuela en crisis, una herramienta en común: las criptomonedas. Descubre cómo la inflación ha impulsado su adopción en América Latina.

Em resumo

  • Venezuela e Argentina são casos extremos de inflação na LATAM, ambos os países registram alta adoção de criptomoedas como resposta.
  • Enquanto a Venezuela prioriza stablecoins, a Argentina retoma o interesse no Bitcoin.
  • Plataformas DeFi ganham relevância em contextos de controle financeiro estatal.

Venezuela: inflação e uma economia em retração

Venezuela foi um dos primeiros países em América Latina onde a adoção de criptomoedas ganhou força em massa. O colapso do bolívar, junto com a hiperinflação, as sanções e a desconfiança nos bancos, levou milhões de pessoas a se refugiar no dólar e, em alguns casos, nas criptomoedas.

Embora a hiperinflação clássica tenha diminuído nos últimos anos, as expectativas continuam complexas. Segundo a Pesquisa de Expectativas Econômicas de maio de 2025 do Observatório Venezuelano de Finanças, a inflação será de 215% até o final do ano. Com uma taxa de câmbio estimada de 187,5 bolívares por dólar.

Além disso, o crescimento do PIB está projetado em -3,5%, refletindo uma retração econômica contínua. Esses dados mostram a crise prolongada das condições macroeconômicas, agravada pela incerteza nas relações entre Venezuela e Estados Unidos.

No aspecto político, a relação do governo de Maduro com as criptomoedas tem sido instável e confusa. Em 2018, a Venezuela lançou o petro (PTR), a primeira criptomoeda criada por um Estado e supostamente respaldada por petróleo. No entanto, foi cancelada em 2024 após anos de pouco uso e muitas críticas.

Ao mesmo tempo, o governo foi acusado de usar criptomoedas em atos de corrupção ligados ao comércio ilegal de petróleo. Ainda assim, voltou a demonstrar interesse no tema, embora sem propor ações claras.

Enquanto isso, Venezuela registra um crescimento anual de 110% na adoção e se mantém como um dos quatro países da região com maior adoção global. Com dados do Relatório Crypto 2024 da Lemon.

Protocolos como Uniswap, Aave e Curve ganharam presença por meio de conexões via wallets como MetaMask, facilitadas por comunidades locais que oferecem treinamentos informais. Em um ambiente de vigilância estatal e instabilidade bancária, DeFi oferece um caminho para operar sem intermediários. Proporcionando maior privacidade e flexibilidade, embora não sem riscos técnicos e de segurança.

Argentina: inflação crônica e um ecossistema cripto mais sofisticado

Diferentemente da Venezuela, a Argentina não entrou em colapso total, mas vive uma crise inflacionária constante. Após anos de desequilíbrios fiscais e desconfiança estrutural na moeda local, o país normalizou taxas de inflação muito altas. Embora em 2023 a inflação anual tenha ultrapassado 211% e o peso tenha se desvalorizado 74% frente ao dólar, em 2024 iniciou-se uma etapa de relativa estabilização.

Segundo o INDEC, em abril de 2025 a inflação mensal foi de 2,8%, com uma variação acumulada de 11,6% e um aumento de 47,3%. Isso, combinado com uma taxa de câmbio mais estável, mudou o comportamento dos usuários cripto.

Em 2023 as stablecoins dominavam as criptomoedas como refúgio de valor, em 2024 o Bitcoin voltou a ser protagonista devido à sua revalorização e ao novo ambiente de investimento.

O Relatório Crypto 2024 da Lemon revela que 4 em cada 10 pessoas que baixam um app cripto na América Latina o fazem na Argentina, que também foi responsável por 93% do crescimento anual em downloads em 2024.

As posses em wallets como a Lemon mostram que o Bitcoin representa 36% dos ativos, seguido por stablecoins (27%) e pesos argentinos (18%). Entre as altcoins, destacam-se Ether e Solana.

A Argentina é um dos países com maior adoção cripto global e lidera em usuários ativos de plataformas digitais, graças à sua classe média digitalizada e a uma população jovem que prefere os criptoativos como alternativa aos sistemas financeiros tradicionais.

A maior estabilidade da taxa de câmbio em 2024 e o aumento no valor do Bitcoin fizeram com que muitas pessoas voltassem a usá-lo em vez das stablecoins, marcando uma nova etapa na adoção.

Criptomoedas como refúgio real?

A ideía de que o Bitcoin serve como refúgio contra a inflação é repetitiva, mas os casos da Venezuela e da Argentina mostram uma realidade complexa.

Quando a inflação é muito alta, a instabilidade do BTC ou ETH nem sempre funciona para quem busca apenas que seu dinheiro não perca valor. Por isso, as stablecoins atreladas ao dólar têm sido chave nessa mudança financeira.

Ainda assim, o uso de cripto em ambos os países responde às necessidades reais. Na Venezuela, é uma forma de subsistência; na Argentina, uma opção para investir, poupar e ter mais controle sobre o dinheiro. Em ambos os casos, as criptomoedas cumprem uma função útil, além da especulação.

América Latina como laboratório cripto

Argentina e Venezuela mostram que, além do entusiasmo, as criptomoedas cumprem uma função real em economias instáveis. Não são perfeitas, mas são útis para enfrentar problemas urgentes como a perda do valor do dinheiro, o controle do governo sobre as finanças e a falta de acesso ao sistema bancário global.

Segundo a Lemon, quatro dos vinte países com maior uso de criptomoedas no mundo estão na América Latina: Argentina, Brasil, México e Venezuela. Cada um tem uma dinâmica distinta: no Brasil destaca-se o uso por parte de instituições; no México, o envio de remessas; na Argentina, a transição de stablecoins para Bitcoin; e na Venezuela, a forte dependência de stablecoins diante do colapso do sistema.

Em uma região onde a inflação é parte do dia a dia, a América Latina se tornou o melhor lugar para entender tanto o potencial quanto os limites das criptomoedas.

Talvez o futuro das finanças descentralizadas não esteja sendo escrito em Wall Street, mas nas ruas de Caracas e Buenos Aires.

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Fernanda G.

Fernanda González es estratega en comunicación, columnista y speaker especializada en tecnología, cripto y venture capital en América Latina. Ha acompañado a startups, fondos y plataformas web3 en su posicionamiento regional, con un enfoque en innovación, inclusión financiera y adopción tecnológica. También es fundadora de Kostik, una agencia que combina relaciones públicas con análisis estratégico para empresas en crecimiento.

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