Dados do PPI mudam expectativas sobre a política do Fed

Enquanto a maioria antecipava uma redução das taxas do Fed em setembro, um indicador-chave gera dúvidas. A publicação do último índice de preços ao produtor (PPI) reacende os temores inflacionários e esfria as esperanças de um afrouxamento monetário. Essa reviravolta sutil, porém significativa, muda o jogo em um contexto onde a política do Fed dita o ritmo dos ativos arriscados, e mais do que nunca, o do mercado cripto.

A dinâmica de um pivô monetário colocada em questão

Até recentemente, a redução das taxas em setembro parecia quase garantida, como antecipava o Goldman Sachs. O mercado futuro do CME (Chicago Mercantile Exchange), via sua ferramenta FedWatch, ainda atribuía uma probabilidade de 96 % a uma redução da taxa básica para 4,00–4,25 %.

No entanto, o vento mudou. Após a publicação do PPI de julho, essa probabilidade caiu para 92,8 %. Uma correção modesta na aparência, mas reveladora de uma mudança na percepção. O mercado começa a duvidar. E essas dúvidas se estendem também às outras plataformas de previsão.

No Kalshi, uma redução de 25 pontos-base em setembro continua sendo o cenário mais previsto com 76 %, mas a taxa de manutenção sobe para 21 %, sinalizando uma prudência crescente.

As plataformas de mercado refletem essa mudança nas expectativas de forma numérica e sem ambiguidades :

• Ferramenta CME FedWatch : 92,8 % de probabilidade de uma redução para 4,00–4,25 % (contra 96 % anteriormente) e 7,2 % de probabilidade de manutenção da taxa ;

• Kalshi : 76 % dos apostadores antecipam uma redução de 25 pontos-base, 21 % preveem manutenção, e 4 % apostam em uma redução maior (>25 bps);

• Polymarket : 72 % de probabilidade de uma redução de 25 pontos-base, 23 % para manutenção, 5 % para uma redução de 50 bps, e 1 % para aumento.

Essas discrepâncias, embora pequenas, refletem uma reconfiguração lenta, porém tangível, das expectativas. A publicação do PPI veio lembrar que a inflação não está sob controle, o que complica o argumento de um pivô monetário rápido.

Mesmo que a maioria do mercado ainda favoreça um afrouxamento, os operadores adotam um tom mais moderado, refletindo uma consciência maior dos riscos macroeconômicos latentes.

A inflação ressurge e confunde as perspectivas

A inflexão observada no Polymarket ilustra a magnitude da situação. De fato, a probabilidade de manutenção monetária em setembro agora alcança 23 %, um nível notavelmente mais alto que no início do mês.

Ao mesmo tempo, o cenário de redução de 25 pontos-base perde alguns pontos e cai para 72 %, enquanto o de uma redução mais acentuada (50 pontos-base) permanece marginal, em 5 %. Se o Fed adotar uma abordagem baseada em dados econômicos, como vem afirmando há vários meses, o desafio fica claro: cada indicador macroeconômico — inflação, emprego, crescimento — passa a poder redistribuir as cartas.

Essa nervosidade decorre de um indicador, o PPI, que, embora menos divulgado que o CPI, é monitorado por seus sinais antecipados sobre pressões inflacionárias. Um aumento inesperado nesse nível alimenta o cenário de uma inflação mais arraigada que o previsto.

Isso coloca o Fed em uma posição delicada: manter as taxas inalteradas apesar dos riscos de desaceleração, ou reduzi-las correndo o risco de fomentar uma nova onda de alta nos preços. Nenhum cenário é simples, e é exatamente essa complexidade que se reflete na volatilidade atual das expectativas monetárias.

Nesse ambiente monetário incerto, o bitcoin não escapa das turbulências. Muito tempo considerado um valor de refúgio contra a inflação, o ativo se ajustou progressivamente ao ritmo das políticas de taxas. Quanto mais as expectativas de redução retrocedem, mais os fluxos para criptoativos desaceleram.

A atual incerteza sobre a trajetória do Fed alimenta assim uma volatilidade latente no mercado cripto, freando os impulsos de alta observados nas últimas semanas. Os operadores permanecem atentos a um sinal monetário claro antes de reposicionarem suas estratégias.

A longo prazo, essa incerteza pode ter consequências mais amplas nos mercados, especialmente nos criptoativos. Um Fed hesitante, percebido como menos previsível, pode fortalecer a volatilidade no bitcoin e nos altcoins, já sensíveis às movimentações das taxas. As próximas publicações do CPI, os números do emprego e os discursos dos membros do FOMC serão, portanto, determinantes.