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Desdolarização: Os BRICS mudam totalmente de direção

13h15 ▪ 5 min de leitura ▪ por Luc Jose A.
Informar-se Geopolítica

À medida que as rivalidades geopolíticas se acendem novamente, a desdolarização se reafirma como uma alavanca para a soberania monetária. Durante muito tempo a principal bandeira dessa ambição, os BRICS pareciam querer desafiar a ordem econômica dominada por Washington. No entanto, um reposicionamento estratégico do Brasil, membro influente do bloco, vem abalar essa trajetória. Ao descartar a ideia de uma moeda comum, o país redistribui as cartas de um projeto já fragilizado, revelando os limites de uma coordenação monetária frente à realidade das relações de força econômicas.

Cinq figures symbolisant les BRICS (Brésil, Russie, Inde, Chine, Afrique du Sud)

O realismo prevalece sobre o idealismo monetário

O Brasil, ao mesmo tempo em que apoia ativamente as iniciativas dos BRICS que visam reduzir a dependência do dólar, como a exploração de sistemas de pagamento alternativos e a adoção progressiva de tecnologias blockchain, mostrou-se mais cauteloso quanto à viabilidade de uma moeda comum.

Em uma declaração, o diretor da política monetária do Brasil, Nilton David, quebrou o ímpeto da aliança dos BRICS e anunciou que nenhum estoque de ativos denominados nas moedas do grupo é hoje suficientemente significativo para competir com o dólar americano.

De fato, ele afirmou “que há poucas chances de isso mudar durante a próxima década”, referindo-se à dominação do dólar americano.

Uma declaração cheia de significado, especialmente vinda do país que assegura a presidência rotativa do bloco dos BRICS em 2025. Essa reviravolta marca um recuo claro em relação às posições históricas do Brasil, que foi, no entanto, um fervoroso defensor de uma alternativa monetária ao sistema centrado no dólar.

À luz dessa declaração, vários elementos permitem compreender a extensão dessa mudança de postura:

  • O reconhecimento de uma realidade econômica: apesar das ambições declaradas, nenhum estoque de moedas nem sistema alternativo parece capaz, a curto ou médio prazo, de competir eficazmente com o lugar do dólar nos mercados internacionais;
  • Uma falta de coesão interna entre os BRICS: as abordagens muito diferentes dos membros, em matéria de política monetária e gestão das reservas, tornam qualquer iniciativa coletiva muito difícil de coordenar;
  • A ausência de governança supranacional: diferentemente da União Europeia com o BCE, os BRICS não possuem instituição comum para liderar uma eventual moeda única, o que complica qualquer estratégia coerente de desdolarização;
  • Uma dependência estrutural persistente: grande parte das trocas internacionais, inclusive aquelas realizadas entre os membros do bloco, ainda são denominadas em dólares. A transição seria, portanto, custosa, longa e tecnicamente complexa.

Em suma, o Brasil, por meio dessa declaração, parece endossar uma verdade que muitos economistas vêm sussurrando há meses: a hegemonia do dólar não pode ser derrubada apenas pela vontade política.

Será necessário mais que um projeto comum e declarações simbólicas para corroer sua dominação.

Um contexto político mundial que redefine as prioridades

Esse inflexão estratégica do Brasil ocorre em um contexto diplomático pelo menos tenso. De fato, já nos 100 primeiros dias de seu segundo mandato, o presidente americano Donald Trump ameaçou os BRICS com sanções econômicas severas, incluindo a implementação de tarifas alfandegárias de até 150%.

Essa postura ultraprotegerista visa punir as iniciativas do bloco relativas à marginalização do dólar nas trocas internacionais. Embora essas ameaças ainda não tenham sido implementadas, elas pesam fortemente nos cálculos políticos e econômicos dos membros do bloco dos BRICS.

Essa mudança de tom do lado brasileiro parece refletir uma vontade de desescalada diante da escalada das tensões comerciais com Washington. O retorno do presidente Trump claramente esfriou as vontades de ruptura frontal.

Ao contrário da Rússia ou da China, o Brasil continua economicamente muito dependente das trocas com os Estados Unidos. Assim, essa realidade limita sua margem de manobra e pode explicar essa releitura realista das ambições dos BRICS. Em outras palavras, talvez não se trate de um abandono da desdolarização, mas de uma desaceleração estratégica motivada pela conjuntura.

Se a declaração brasileira soa como um retrocesso, não sinaliza necessariamente o fracasso da desdolarização. Pode marcar o início de uma fase mais cautelosa, mais longa e mais progressiva, em que a contestação da hegemonia do dólar será feita por ajustes periféricos ao invés de confronto direto. Embora o projeto de moeda única dos BRICS pareça ter sido abandonado, os membros da aliança terão de agora em diante lidar com os ventos contrários de uma geopolítica instável e de um retorno ofensivo do unilateralismo americano.

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Luc Jose A.

Diplômé de Sciences Po Toulouse et titulaire d'une certification consultant blockchain délivrée par Alyra, j'ai rejoint l'aventure Cointribune en 2019. Convaincu du potentiel de la blockchain pour transformer de nombreux secteurs de l'économie, j'ai pris l'engagement de sensibiliser et d'informer le grand public sur cet écosystème en constante évolution. Mon objectif est de permettre à chacun de mieux comprendre la blockchain et de saisir les opportunités qu'elle offre. Je m'efforce chaque jour de fournir une analyse objective de l'actualité, de décrypter les tendances du marché, de relayer les dernières innovations technologiques et de mettre en perspective les enjeux économiques et sociétaux de cette révolution en marche.

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