Ford testa a blockchain Cardano para revolucionar o armazenamento de dados legais

Nos últimos anos, a blockchain tem se infiltrado em todos os lugares: automotivo, saúde, finanças. Agora, ela tenta se estabelecer no próprio coração dos procedimentos jurídicos. Desta vez, o movimento vem de uma parceria entre Ford, Iagon e Cloud Court, todos unidos para testar se Cardano pode se tornar a base tecnológica de uma gestão descentralizada e inteligente dos dados legais. Uma prova de conceito foi lançada. O desafio? Alinhar segurança, conformidade e inteligência artificial em um campo ainda dominado por sistemas pesados, caros e fragmentados.

Ford avalia Cardano para revolucionar a gestão jurídica das empresas

A blockchain quer revolucionar tudo, da saúde ao jurídico, passando pela energia e mobilidade. Quando uma empresa do Fortune 50 como a Ford decide explorar seu uso para gerenciar seus dados jurídicos, isso envia uma mensagem forte. Este envolvimento é discreto: a marca desempenha um papel estritamente consultivo, mas traz sua expertise colossal em conformidade, operações jurídicas e armazenamento seguro.

A prova de conceito reúne a Iagon, especialista em armazenamento descentralizado, e a Cloud Court, um editor de ferramentas jurídicas impulsionadas por inteligência artificial. Os dados permanecem criptografados e armazenados off-chain; somente os metadados são ancorados no Cardano para garantir a rastreabilidade. A isso se adiciona a análise de documentos legais via IA treinada para reconhecer depoimentos, atas e outros arquivos sensíveis.

Esta arquitetura híbrida visa oferecer um elo de confiança para as empresas. Como escreve a Iagon em seu comunicado:

Este projeto representa um avanço importante não apenas para a indústria jurídica, mas também para o ecossistema Cardano.

O interesse não é só técnico: ao passar neste teste, Cardano, emissor da criptomoeda ADA, poderia se tornar a referência jurídica para empresas com alta exigência regulatória.

Quando a Ford testa os limites jurídicos da blockchain sem se queimar

A Ford não investiu capital nem montou um nó validador. Mas a empresa quer saber se a blockchain pode fazer melhor do que seus sistemas atuais. Pois hoje, até as maiores equipes jurídicas estão sobrecarregadas com montanhas de documentos. Entre testemunhas para preparar, provas para encontrar e versões a conciliar, cada processo vira um desastre operacional.

A citação oficial é clara:

A Ford avaliará a segurança e escalabilidade do armazenamento legal descentralizado.

A empresa também testará a adequação das rastreabilidades baseadas em blockchain com seus procedimentos internos.

Também é uma maneira da Ford verificar se essas infraestruturas são compatíveis com padrões como a GDPR ou HIPAA, sem perder eficiência. Por sua vez, os desenvolvedores do Cardano veem uma oportunidade para mostrar que sua rede pode se adaptar aos setores regulados — distante do simples ecossistema cripto.

Esta colaboração não é a primeira para a Ford. Em 2019, ela se associou à IBM e LG Chem para rastrear o cobalto usado em suas baterias via blockchain. Hoje, ela retorna a um terreno conhecido, mas em outro universo: o da justiça digital.

Cardano, blockchain e inteligência jurídica: para uma adoção mais ampla?

Esse teste não é apenas um exercício tecnológico. É um laboratório em tamanho real para testar o que a blockchain pode oferecer aos setores mais conservadores.

• 70% das grandes empresas jurídicas ainda trabalham com sistemas compartimentados, pouco interoperáveis;
• As violações de dados legais custaram mais de 100 milhões de dólares nos Estados Unidos em 2023;
• Cardano já hospeda projetos na saúde, educação e agora no direito;
• A Cloud Court afirma ter uma IA capaz de reduzir em 40% o tempo de preparação das audiências;

Para os atores do projeto, um sucesso poderia abrir portas para outros setores: seguros, governos, saúde. A blockchain, com sua transparência e ausência de terceiros de confiança, oferece uma alternativa viável aos servidores centralizados, caros e frágeis.

Os desenvolvedores do Cardano, por sua vez, não escondem suas ambições: “Esta iniciativa demonstra que a infraestrutura descentralizada pode atender às exigências das indústrias reguladas“. A mensagem é clara: eles querem que esta Prova de Conceito (PoC) sirva como modelo replicável.

Além disso, a Ford não faz parte daquelas empresas que Michael Saylor gostaria de ver injetando bitcoin em seu caixa. Porém, em setembro de 2022, a empresa registrou uma série de marcas relacionadas ao metaverso. Foi por essa porta que a montadora se lançou no Web3. O projeto jurídico com Cardano mostra hoje outra face dessa transformação. A mais discreta, de uma guinada para infraestrutura e casos de uso concretos.