Michael Saylor reforça aposta em BTC apesar da volatilidade

Enquanto o bitcoin fica em torno de 91.000 US$ após seu pico em outubro, a Strategy surpreende os mercados com uma compra maciça de mais de 10.000 BTC. Essa aposta de quase um bilhão de dólares, em plena queda prolongada, reabre os debates sobre a viabilidade do modelo “Bitcoin-caixa”. O gesto fascina tanto quanto preocupa: devemos ver nele uma convicção estratégica ou um risco financeiro significativo para uma empresa já sob pressão ?

Uma acumulação incessante apesar da crescente pressão no mercado de ações

Michael Saylor continua ignorando as turbulências do mercado cripto. Embora a ação da Strategy tenha perdido mais de 50 % em um ano, a empresa anunciou ter adquirido 10.624 BTC por cerca de 962,7 milhões de dólares, a um preço médio de 90.615 US$ por cripto.

Esse anúncio, feito diretamente por Saylor no X, eleva os ativos totais da empresa para 660.624 BTC, a um custo global de 49,35 bilhões de dólares, correspondendo a um preço médio de aquisição de 74.696 US$ por bitcoin.

De fato, esses ativos hoje estão valorizados em cerca de 60 bilhões de dólares, representando 22 % de ganhos latentes. Em outras palavras, apesar da ação em declínio acentuado, a Strategy mantém uma posição estruturalmente vencedora em suas reservas de BTC.

Em um clima marcado por dúvidas sobre sua solvência, a Strategy tomou medidas ofensivas para tranquilizar os mercados e evitar uma espiral negativa. Seu CEO, Phong Le, respondeu às preocupações referentes à possível incapacidade de honrar seus compromissos financeiros, especialmente os dividendos. Ele declarou : “havia um FUD difundido afirmando que não poderíamos cumprir nossas obrigações de dividendos, o que levou alguns a apostar na queda do bitcoin”. Em resposta a esses receios :

• A Strategy levantou 1,44 bilhão de dólares para reforçar seu caixa ;

• Essa captação visa neutralizar o discurso alarmista sobre um risco de venda forçada de ativos ;

• A direção afirma que continua plenamente capaz de pagar sua dívida e seus dividendos, mesmo em caso de baixa prolongada no preço da ação ;

• Essa postura financeira visa manter a confiança dos acionistas enquanto a acumulação de BTC continua sem concessões.

Essa acumulação contínua, realizada em um contexto difícil para a empresa, envia uma mensagem clara: a Strategy permanece determinada a fazer do bitcoin o pilar central de sua estratégia financeira, independentemente das turbulências do mercado de ações.

O bitcoin, um novo capital digital

Paralelamente a essa aquisição, Michael Saylor continua um trabalho de convencimento junto a grandes instituições financeiras. Durante o Bitcoin MENA em Abu Dhabi, ele multiplicou encontros com fundos soberanos, bancos e family offices para defender uma visão renovada do bitcoin.

“Minha mensagem é muito simples : agora temos um capital digital. O bitcoin é um capital digital. É ouro digital”, afirmou publicamente, antes de acrescentar : “com base nisso, temos uma nova classe de ativos chamada crédito digital. O crédito digital remove a volatilidade do capital e gera rendimento”.

Com essas palavras, Saylor não se limita mais a apresentar o bitcoin como um ativo especulativo, mas agora o integra em uma lógica mais ampla, a de uma infraestrutura de crédito digital com rendimento integrado.

Essa abordagem contrasta com os números recentes do mercado. Em novembro, os fluxos de entrada nas tesourarias de ativos digitais (DAT) caíram para 1,32 bilhão de dólares, uma queda de 34 % em relação a outubro.

No entanto, a Strategy representou sozinha mais de 63 % dessas entradas, com uma compra anterior de 835 milhões de dólares em BTC realizada em 17 de novembro. O contraste entre a estratégia da empresa e as dinâmicas gerais do setor chama atenção: seria isso uma teimosia arriscada ou uma antecipação visionária?

Com essa compra maciça de BTC, a empresa busca restaurar a confiança. A Strategy havia revelado uma nova arma anti-pânico, mas a pressão permanece palpável. Se o mercado não se recuperar, essa estratégia pode se tornar um fardo em vez de uma alavanca, expondo seus limites em períodos de tensão prolongada.