Stripe revela Tempo, uma blockchain dedicada a pagamentos em stablecoins

A indústria cripto está cheia de atores flamboyantes que monopolizam a atenção. Mas alguns constroem à sombra dos holofotes, pacientemente, antes de surgir com estrondo. Stripe faz parte dessa categoria. Presente há muito tempo no universo dos pagamentos digitais, a empresa não está fazendo seu primeiro investimento na disrupção. Com o Tempo, uma blockchain concebida para stablecoins, Stripe e seu parceiro Paradigm redesenham o futuro das transações globais.

Da desconfiança à conversão: quando a Stripe abraça os stablecoins

Quando Solana partiu para conquistar o e-commerce, a Stripe se juntou à aventura cripto. Uma surpresa, considerando que Patrick Collison por muito tempo expressou seu ceticismo. No Hacker News, o CEO da Stripe explicou: ” Existem muitos céticos da cripto no HN (e nós mesmos ficamos decepcionados com a utilidade dos pagamentos em cripto durante grande parte da última década). Portanto, pode ser interessante compartilhar o que nos fez mudar de opinião nos últimos anos: começamos a notar que muitas empresas reais encontraram utilidade nos stablecoins“.

Essa mudança não é teórica. A Stripe adquiriu a Bridge em 2024, e desde então, clientes importantes adotaram a solução. A SpaceX usa para gerenciar seus fluxos em zonas de difícil acesso. A fintech latino-americana DolarApp a utiliza para oferecer serviços bancários. E um importador argentino de bicicletas paga seus fornecedores via painel da Stripe. 

Collison destaca: 

É importante destacar que nenhuma dessas empresas usa cripto porque é cripto ou para algum benefício especulativo. Elas realizam atividades financeiras reais e perceberam que a cripto (via stablecoins) é mais simples, mais rápida e melhor do que o status quo. 

Tempo, o novo SWIFT on-chain desejado pela Stripe

A Stripe e Paradigm não querem apenas participar: querem construir a infraestrutura. O Tempo é uma blockchain pensada para funcionar nos bastidores, como o SWIFT ou ACH. Collison chegou a falar de um “SWIFT descentralizado em escala da internet“. A analogia não é perfeita, mas ilustra a ambição.

As características técnicas impressionam: 100.000 transações por segundo, finalização em menos de um segundo, compatibilidade EVM via Reth. As taxas são pagas diretamente em stablecoins, sem token nativo. Tempo também oferece confidencialidade opcional, uma “payment lane” dedicada com memorandos e listas de acesso.

A Stripe reuniu uma gama de parceiros que credibilizam o projeto: Visa, Standard Chartered, Deutsche Bank, Nubank, Revolut, Shopify, OpenAI e Anthropic. 

A visão é clara: permitir que pagamentos, remessas, depósitos tokenizados e microtransações aconteçam on-chain, sem impor a complexidade das blockchains aos usuários finais. Para muitos, é uma tentativa séria de transformar stablecoins em trilhos globais de pagamento.

A cripto se divide: realmente precisávamos de uma nova Layer 1?

O lançamento do Tempo não foi unânime. Alguns aplaudem um projeto ambicioso, outros denunciam uma cadeia a mais. Joe Petrich, engenheiro da Courtyard, reagiu sem rodeios:

Ninguém quer outra blockchain. Os problemas que vocês mencionam já foram resolvidos para as pessoas determinadas a usar blockchains, então não há necessidade de uma nova cadeia que pretende “corrigir” esses problemas. 

Críticas técnicas também surgiram. A Helius Labs afirmou que Collison está errado sobre as capacidades da Solana, qualificando sua análise de “errada em várias dimensões”.

Outros, como Devansh Mehta da Ethereum Foundation, se perguntam por que o Tempo não foi construído como um Layer 2. Segundo ele, um L2 teria permitido aproveitar a segurança e interoperabilidade do Ethereum.

Fatos chave sobre o Tempo

• Lançamento em setembro de 2025 pela Stripe e Paradigm;
• Débito anunciado: mais de 100.000 transações por segundo;
• Finalização: menos de um segundo, sem token nativo, taxas em stablecoins;
• Parceiros iniciais: Visa, Revolut, Deutsche Bank, Nubank, Shopify, OpenAI, Anthropic.

A Stripe defende sua escolha: seus volumes já ultrapassam 10.000 transações por segundo nos picos de atividade. Para Collison, nenhuma blockchain atual está calibrada para essa escala. O Tempo seria, portanto, a ferramenta necessária para que o mundo dos pagamentos cripto transite para uma nova dimensão.

Em maio passado, Patrick Collison revelou que os bancos estão muito interessados em stablecoins. Quatro meses depois, a Stripe surge como um dos atores mais engajados na adoção deles. Com o Tempo, a empresa não apenas acompanha a tendência: ela tenta moldá-la, colocando os stablecoins no centro de um futuro sistema globalizado de pagamentos.