Suprema Corte dos EUA questiona poderes comerciais de Trump

Kalshi e Polymarket registram uma queda brusca nas probabilidades a favor de Donald Trump, enquanto a Suprema Corte analisa a legalidade de seus poderes tarifários. Essa reviravolta ilumina duas dinâmicas : a possível redução da autoridade presidencial sobre o comércio exterior e o papel crescente das plataformas descentralizadas como sensores de antecipação política. Um caso onde direito constitucional, estratégia econômica e tecnologia se cruzam sob o olhar dos juízes… e dos investidores.

Os mercados de previsão rejeitam a posição de Trump

A batalha silenciosa sobre os poderes presidenciais americanos agora acontece nas plataformas de previsão, enquanto a justiça americana havia declarado ilegais as tarifas aduaneiras.

Enquanto a Suprema Corte examina os fundamentos constitucionais das tarifas impostas por Donald Trump por meio do IEEPA de 1977, os mercados antecipam um veredicto desfavorável ao presidente.

Nesta quinta-feira, a plataforma americana regulada Kalshi exibia apenas 29 % de probabilidade de que a Suprema Corte decida a favor do presidente, uma queda de 28 pontos em um único dia.

No Polymarket, plataforma descentralizada baseada em blockchain e cujos contratos são liquidados em USDC, o nível de confiança é ainda menor, em 25 %. O volume total negociado nas duas plataformas ultrapassou 1,3 milhão de dólares, refletindo um interesse e nervosismo tangíveis em torno desse caso. Essa dinâmica mostra uma leitura compartilhada entre investidores tradicionais e usuários cripto, que ajustam suas posições frente ao que percebem como uma reviravolta.

Esses movimentos de mercado estão estreitamente ligados à reavaliação do contexto judicial pelos traders. Desde que a Suprema Corte aceitou analisar o caso em setembro, as posições se concentraram em um ponto central: a capacidade do presidente de invocar uma lei de emergência de 1977 (International Emergency Economic Powers Act) para impor tarifas alfandegárias sem a aprovação do Congresso. A reviravolta brusca, descrita pela Kalshi como a maior queda diária observada no contrato, reflete vários fatos :

• Consciência de que o desfecho do julgamento agora é visto como desfavorável a Trump pela maioria dos atores ;

• Reconfiguração rápida das posições nas duas plataformas, com probabilidades alinhadas em torno de 25-29 % ;

• Aumento do volume negociado à medida que investidores buscam se reposicionar ou sair de seus contratos ;

• Convergência notável entre mercados tradicionais (Kalshi) e descentralizados (Polymarket), que interpretam os sinais judiciais e outros dados on-chain com a mesma grade de análise probabilística.

Os juízes questionam : a Suprema Corte diante dos limites do poder executivo

Na audiência oral realizada nesta quarta-feira pela Suprema Corte dos Estados Unidos, vários juízes conservadores expressaram ceticismo acentuado em relação à posição defendida pela administração Trump.

De fato, o juiz Neil Gorsuch alertou contra o risco de criar um “mecanismo unidirecional”, que poderia desequilibrar duradouramente o equilíbrio institucional em favor do poder executivo. Amy Coney Barrett, também nomeada por Trump, questionou os representantes do governo sobre a lógica de visar países como França ou Espanha no âmbito de um dispositivo supostamente destinado a responder a uma situação de emergência. Por fim, o presidente da Corte, John Roberts, lembrou que “as tarifas, como forma de imposto, historicamente são de competência do Congresso”.

Essas declarações revelam uma possível contestação do uso do International Emergency Economic Powers Act (IEEPA) para justificar políticas comerciais unilaterais. Os juízes parecem preocupados com uma deriva do poder executivo que, se confirmada neste caso, poderia atribuir-se prerrogativas orçamentárias sem contrapeso parlamentar.

Se a Corte vier a restringir a interpretação atual do IEEPA, as consequências seriam múltiplas. Sob o ponto de vista jurídico, isso criaria um precedente limitando a margem de manobra do presidente americano em questões de comércio internacional.

No plano econômico, isso poderia reduzir a incerteza ligada às políticas tarifárias ad hoc, frequentemente fonte de volatilidade nos mercados. E para as criptomoedas, tradicionalmente sensíveis às tensões geopolíticas, isso poderia resultar, a longo prazo, em menos movimentos bruscos ligados a anúncios unilaterais, e assim uma percepção reduzida do bitcoin como valor refúgio, com uma correlação com o ouro que atingiu 0,85, frente a esse tipo de risco.