Fim de uma era : Buffett se despede após 60 anos

Aos 95 anos, Warren Buffett continua sendo um dos últimos bastiões de um capitalismo baseado na paciência e no valor. Enquanto os mercados se inflamam ao ritmo dos algoritmos e tweets virais, o oráculo de Omaha permanece fiel a uma estratégia imutável : investir no que se entende, para o longo prazo. Além do seu aniversário, esta semana também marca uma página que se vira para a Berkshire Hathaway.

Warren Buffett aos 95 anos : uma página se vira na liderança da Berkshire Hathaway

Warren Buffett oficialmente anunciou que deixará seu cargo de CEO da Berkshire Hathaway até o final do ano, após mais de sessenta anos de liderança ininterrupta. Uma longevidade inédita na história do capitalismo moderno, que confere a essa transição um significado simbólico considerável.

Desde que assumiu o controle da Berkshire Hathaway em 1965, o Oráculo de Omaha transformou esta antiga empresa têxtil em um conglomerado de ponta, cuja capitalização de mercado hoje ultrapassa 870 bilhões de dólares. O anúncio da sua saída, embora previsível, marca o fim de uma época, tanto para a Berkshire quanto para os mercados financeiros como um todo.

Há vários anos, Buffett vinha preparando sua sucessão, com Greg Abel, atualmente responsável pelas operações fora do setor de seguros, designado como seu sucessor natural. No entanto, o desafio vai além da simples passagem de bastão. É a própria marca de Buffett que está em questão, ele que construiu sua reputação com uma gestão prudente, anticíclica e focada na criação de valor ao longo de várias décadas. Os seguintes pontos resumem o que torna essa transição tão notável:

• 60 anos de governança sem interrupção, um recorde entre as grandes capitalizações americanas ;

• Uma estratégia de investimento baseada na compra de empresas sólidas, a preços razoáveis, e mantidas a longo prazo ;

• Uma gestão descentralizada da Berkshire Hathaway, baseada na autonomia das subsidiárias ;

• Desempenhos históricos excepcionais: entre 1965 e 2023, a ação Berkshire gerou um retorno médio anual de +19,8 %, contra +9,9 % para o S&P 500 no mesmo período ;

• Uma imagem pública de rigor, integridade e educação financeira, personificada em suas cartas anuais lidas por milhões de investidores ao redor do mundo.

Essa mudança de governança, embora controlada, encerra a era de um homem que personificou o investimento baseado no bom senso e resiliência. Para os mercados, é também uma nova incerteza, pois apesar dos mecanismos estarem no lugar, a intuição estratégica e a estatura moral de Buffett não são transferíveis.

Uma filosofia de investimento sempre atual

Além de seu anúncio de saída, Warren Buffett aproveitou esta etapa simbólica para lembrar os fundamentos de sua estratégia de investimento, baseada na simplicidade e no rigor intelectual.

Um de seus princípios principais permanece a recusa da tentativa de antecipação do mercado e da especulação irracional.

David I. Kass, professor na Robert H. Smith School of Business, ressalta que “Buffett disse que o que diferencia os investidores bem-sucedidos dos outros é a capacidade de não entrar em pânico quando os mercados caem, nem ficar eufórico quando eles sobem fortemente”. Um princípio que ele aplicou, especialmente durante a crise de 2008, quando atuou como credor de última instância para Goldman Sachs ou General Electric.

A filosofia de Buffett nunca se resumiu a uma lista de índices financeiros. Ela se baseia em uma compreensão profunda das empresas, sua liderança e sua capacidade de gerar valor a longo prazo.

Seu investimento na Apple em 2016, contra a opinião de muitos analistas que o consideravam distante demais do setor de tecnologia, revelou-se um dos mais rentáveis de sua carreira. “Com a Apple, Buffett realizou o maior ganho de toda sua carreira em uma única ação, com cerca de 100 bilhões de dólares de retorno sobre o investimento, e isso ainda não acabou”, lembra Ardal Loh-Gronager. É essa capacidade de evoluir, sem renegar suas convicções, que explica a pertinência contínua de suas escolhas, mesmo na era digital.

No momento em que inteligência artificial, criptomoedas e ETFs automatizados redesenham os contornos do investimento, a abordagem de Buffett, centrada no valor intrínseco, paciência e domínio emocional, permanece uma bússola confiável.

A transição anunciada na liderança da Berkshire provavelmente não mudará a cultura profundamente enraizada da empresa. No entanto, ela abre caminho para um período de observação: como esse gigante se comportará sem seu fundador emblemático? Para investidores tradicionais como para os atores do Web3, entender Buffett não é aderir cegamente a suas escolhas, é integrar uma metodologia rigorosa que atravessa bolhas e ciclos.